Sinopse: Todas as crianças da mesma sala de aula, exceto uma, desaparecem misteriosamente na mesma noite e exatamente no mesmo horário. A comunidade fica se perguntando quem ou o que está por trás do desaparecimento.
O que fazer quando o mal te chama para brincar?
Em uma única noite, várias crianças de uma mesma turma desaparecem repentinamente, todas, exceto uma. A partir daí, a professora da turma, Justine Gandy (Julia Garner), torna-se a principal suspeita aos olhos da comunidade.
Dirigido por Zach Cregger, de Noites Brutais (2022), A Hora do Mal é ambientado na pequena cidade fictícia de Maybrook, e começa com uma narração em off que contextualiza os eventos que levaram à trama que iremos acompanhar. Logo em seguida, presenciamos o acontecimento que dá início à história: o desaparecimento das crianças, embalado por uma trilha sonora inquietante. Aos poucos, somos apresentados aos personagens centrais, começando por Gandy, que é vista pelos pais como a responsável pela tragédia e quase linchada durante uma reunião escolar. Entre todos os alunos, apenas Alex Lilly (Cary Christopher) permanece em casa naquela noite.
A direção é assertiva em suas escolhas na introdução: apresenta múltiplos elementos e levanta dúvidas desde o princípio, mantendo o espectador imerso e curioso. Outro mérito está na construção gradual das facetas dos personagens, que se revelam divisivos, interessantes, profundos e imprevisíveis. Ao acompanhar a perspectiva da professora Gandy, a direção reforça a tensão e constrói uma subtrama poderosa: ela é alvo de perseguição, mas nada garante que também não possa ser uma vítima em potencial, o que aumenta nossa apreensão por seu destino.
No entanto, nem tudo são acertos. Quando o assunto é provocar medo, o cineasta se perde e recorre excessivamente a jumpscares previsíveis, o que enfraquece o impacto das cenas de horror. Por outro lado, aposta em metáforas visuais para retratar a insegurança presente nos subúrbios e nas casas, espaços que antes representavam refúgio, mas que hoje parecem assombrados pela violência e pela fragilidade das instituições. Um exemplo marcante é a cena em que Archer Graff (Josh Brolin), pai de uma das crianças desaparecidas, tem um pesadelo e, ao olhar para o céu acima de sua casa, vê uma metralhadora gigante flutuando.
A narrativa fragmentada, dividida em capítulos, apresenta eventos paralelos e explora diferentes pontos de vista, adicionando camadas à trama principal. O desenvolvimento das relações “a conta-gotas” permite que o filme respire, sem se tornar monótono, e mantém o suspense constante. Essa estrutura também abre espaço para que o longa transite por diferentes subgêneros do terror ao longo do percurso.
Nos aspectos técnicos, a fotografia merece destaque: muitas vezes antecipa acontecimentos ao explorar a interação entre primeiro e segundo plano, tornando as cenas mais elaboradas e tensas. A montagem não linear, por sua vez, acrescenta complexidade e engajamento. No elenco, Julia Garner entrega uma Gandy multifacetada, doce e dedicada aos alunos, mas também alcoólatra e envolvida em um caso extraconjugal com um policial. Já Cary Christopher, apesar da pouca idade, demonstra grande maturidade ao interpretar um garoto de olhar assustado, mas que enfrenta o perigo com destemor.
Em suma, A Hora do Mal executa bem aquilo a que se propõe. Apesar de falhar em gerar medo, seu objetivo mais importante, como terror, e beber de muitas fontes, como o conto do Flautista de Hamelin e João e Maria, consegue contar uma história autêntica, instigante e imersiva. Soma-se a isso um bom roteiro, uma montagem inspirada e um elenco afiado, resultando em um filme que, mesmo com ressalvas, consegue prender o espectador do início ao fim.