Nas últimas décadas, as produções audiovisuais realizadas pelos cineastas indígenas têm conquistado cada vez mais espaço, evidenciando a riqueza e a diversidade de suas narrativas, estéticas e modos de contar histórias. Esses filmes ampliam as representações dos povos indígenas no cinema e também desafiam perspectivas coloniais que historicamente os silenciaram ou os representaram de maneira estereotipada. Nesse contexto, torna-se fundamental refletir sobre as terminologias utilizadas para nomear essas produções e as implicações que certas designações carregam, especialmente no campo acadêmico e crítico.
Por isso, no compromisso de reconhecer e fortalecer a autonomia dos povos indígenas na produção audiovisual, o OCA renomeia a seção “Audiovisual Ameríndio” para “Cinemas Indígenas”. A mudança reflete não apenas uma revisão terminológica, mas um posicionamento crítico em relação à forma como nomeamos e compreendemos as cinematografias indígenas.
O termo “ameríndio”, embora amplamente utilizado, carrega uma carga etimológica colonial, derivada da junção entre “América” (nome dado em homenagem ao navegador europeu Américo Vespúcio) e “índio” (erro histórico de Colombo ao acreditar ter chegado às Índias). Seu uso reforça uma perspectiva eurocêntrica sobre os povos originários e não corresponde à forma como esses povos se autodenominam.
Por outro lado, “Cinemas Indígenas” enfatiza a pluralidade de produções feitas por diferentes povos indígenas, reconhecendo suas especificidades culturais, linguísticas, cosmológicas e territoriais. O termo reforça o protagonismo dos cineastas indígenas na construção de suas narrativas e na afirmação do cinema como ferramenta de luta, memória e resistência.
Essa mudança reafirma nosso compromisso em dar visibilidade às produções e debates que emergem dos próprios realizadores indígenas, reconhecendo que os cinemas indígenas são múltiplos, dinâmicos e fundamentais para a reescrita das histórias audiovisuais no Brasil e no mundo. Seguimos atentos e atentas e em diálogo com as vozes indígenas para continuar aprimorando essa seção como um espaço de reflexão e valorização de seus cinemas.