O quão similar a nossa realidade uma distopia zumbi, que se passa 28 anos no futuro, pode ser? Afinal, valores éticos e morais se perdem totalmente em uma sociedade que se adaptou a sua vivência? O terceiro filme da franquia de Extermínio, comumente conhecido como 28 years later, retrata sobre isso e muito mais. Em Extermínio 3: A Evolução (28 years later), há um retrato, ao mesmo tempo, distante e semelhante ao mundo atual, que, justamente por causa de uma pandemia, nunca mais retornou ao que era anteriormente.
O público retorna a uma Inglaterra isolada e, dessa vez, sem sinal de salvação. Nessa sociedade, que se readaptou para sobreviver, costumes agrícolas e de caça se tornam essenciais na pequena ilha onde o garoto Spike (Alfie Williams) vive. Em sua vila autossuficiente, ele se encontra muito novo em uma posição de perigo na comunidade, ao deixar sua ilha segura para se aventurar no continente junto ao pai (Aaron Taylor-Johnson). Com muitas reviravoltas e momentos de tensão, somos apresentados a esse mundo distópico junto ao personagem, uma vez que ele nunca havia o visto de fato, enquanto nós, espectadores, não conhecíamos sua evolução. Zumbis evoluídos e mutados, um país irreconhecível e longe de qualquer contato com o mundo exterior, o futuro depois de um apocalipse zumbi parece extremamente distópico, e por um momento é até esquecido o fato de que eles estão em quarentena, e o resto das sociedades seguiram com suas vidas cotidianas por todo esse tempo. Porém, alguns sentimentos e valores se mantêm os mesmos, e a noção de humanidade ganha novas vertentes, independentemente da sociedade em que se encontram..
Assim, como nos filmes anteriores, o uso de uma câmera instável transmite, perfeitamente, a agonia e desespero da sobrevivência durante a fuga dos zumbis. Com cenas tensas e criativas, usufruindo de técnicas divertidas em cada morte, além de uma trilha sonora comum da franquia a qual se constrói, perfeitamente, a atmosfera apocalíptica. Porém, diferentemente deles, a história no terceiro longa traz vertentes muito mais complexas. Com uma profundidade narrativa inesperada para uma franquia famosa, pelo terror de zumbis, o longa consegue abordar, com dramaticidade, laços familiares, que sofreram com o passar dos anos do vírus; mas que, ao mesmo tempo, ainda são a base de muitas escolhas. Além disso, assim como os seres humanos não infectados, os zumbis adquirem uma complexidade que, por muitas vezes, embaça a ideia de que eles são, realmente, criaturas sem alma como os sobreviventes tanto tentam provar. Sem mais uma ideia de governo e civilização, a ética construída e morais criadas pela população, durante anos, somem. Porém, tanto humanos quanto zumbis possuem comportamentos contraditórios e exemplificam como, independente da sociedade, a empatia e bondade são inerentes ao ser humano.
Extermínio 3: A Evolução é, portanto, uma obra que mostra exatamente o que faz de nós humanos, seja com vírus, seja sem. A inovação de uma franquia previamente aclamada está em sua capacidade de conversar plenamente com a evolução da sociedade retratada e, também, da sociedade que nos tornamos desde seu início. Agora, com diversos caminhos que podem ser seguidos, resta ao público esperar ansiosamente por mais narrativas desses personagens que, assim como a própria humanidade que falam, possuem muito mais complexidade do que se vê à primeira vista.