Crítica escrita por João Pedro Ferreira.

Sinopse: Eddie invade um SUV de luxo e cai em uma armadilha mortal montada por um autoproclamado vigilante que aplica sua própria versão de justiça distorcida. Preso dentro do carro, Eddie logo descobre que a fuga é uma ilusão.

A premissa do longa foi inspirada no filme argentino 4×4 (2019), que mostra um ladrão preso dentro de um carro altamente protegido, enfrentando tormentos psicológicos. Essa ideia ganhou uma adaptação brasileira: A Jaula (2022), com Chay Suede, que mantém o foco na tensão e no drama do confinamento. Outra obra semelhante é Capturado (2020), que também explora o isolamento extremo e a luta pela sobrevivência. Todas essas produções utilizam o confinamento como elemento central para criar suspense, drama e mostrar a transformação dos personagens diante da adversidade.

Em Confinado (2025), Bill Skarsgård interpreta Eddie, um ladrão em meio a uma crise financeira e com um relacionamento fragilizado com a filha. Desesperado, ele tenta roubar um carro de luxo, mas acaba preso dentro do veículo, que se revela uma armadilha tecnológica sofisticada. A partir daí, surge William — o enigmático dono do carro — que passa a se comunicar com Eddie por meio de um sistema interno. Apresentando-se como um “justiceiro”, William transforma a situação em um tenso e perturbador jogo psicológico. O filme inverte os papéis de forma interessante: o criminoso vira vítima, enquanto o suposto justiceiro assume a posição de antagonista, ainda que envolto em uma ambiguidade moral constante. O longa levanta questões éticas provocativas — como os limites da justiça fora da lei —, mas nem sempre aprofunda essas reflexões de maneira satisfatória. Em vez disso, aposta na tensão claustrofóbica e no embate mental entre os personagens, mergulhando o espectador em um suspense inquietante, mesmo que por vezes previsível.

Embora introduza dilemas morais complexos, o filme tende a tratá-los mais como gatilhos narrativos do que como temas verdadeiramente explorados. A discussão sobre vingança, justiça e desumanização se apresenta de forma instigante, mas muitas vezes cede espaço à tensão sensacionalista e ao suspense psicológico, sem mergulhar nas implicações filosóficas mais densas dessas temáticas. Isso fica ainda mais evidente na construção do personagem William. Ao contrário do personagem Dr. Henrique Ferrari, o dono do carro em A Jaula, se revela ainda mais perverso em sua abordagem. Enquanto Ferrari, embora imerso em um jogo psicológico, mantém uma certa moralidade em suas ações, William ultrapassa os limites da crueldade. Além de punir implacavelmente Eddie, ele se torna ameaçador de maneira ainda mais insidiosa ao envolver a filha do criminoso. Ao persegui-la de carro, ele não só atenta contra a segurança dela, mas também coloca em questão as próprias fronteiras da justiça que ele tenta impor. Esse comportamento torna William uma figura ainda mais inquietante, não apenas por seu sadismo, mas pela maneira como usa a vulnerabilidade de Eddie para manipular suas emoções e, ao mesmo tempo, destruir qualquer vestígio de humanidade. Esse contraste entre os personagens revela uma reflexão crítica sobre o conceito de vingança e os limites do poder. William, ao ameaçar a filha de Eddie, transforma sua busca por justiça em um jogo de poder e controle, onde a punição vai além do crime cometido, alcançando o âmbito pessoal e familiar. Essa abordagem não apenas amplia a tensão psicológica do filme, mas também questiona o papel do justiceiro: será que sua busca por justiça não acaba se tornando um ato de pura perversidade? Em vez de propor uma reflexão sobre a moralidade das ações, Confinado nos desafia a pensar até que ponto a vingança pode desumanizar aqueles que a buscam.

Confinado é um thriller tenso que utiliza bem o confinamento e o embate psicológico entre seus personagens. Embora levante questões éticas interessantes sobre justiça e vingança, o filme não aprofunda essas reflexões, priorizando o suspense e o impacto emocional. Ainda assim, entrega uma experiência envolvente e instigante, mesmo que limitada em seu alcance filosófico.

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