Os Dragões, com direção de Gustavo Spolidoro, é adaptação da obra do escritor Murilo Rubião e conta a história de 5 jovens de um vilarejo tradicional no sul do Brasil, que começam a sofrer transformações em seu corpo e a discriminação social decorrente disso.
É justo que se diga, primeiramente, que fazer fantasia no Brasil é um desafio à parte. Nossa filmografia, por mais obras magníficas desse gênero que apresenta, quase não gera impacto no que diz respeito ao nosso mercado e distribuição em salas de cinema. Isso sem dúvida foi um grande obstáculo que Os Dragões precisou atravessar, principalmente na captação de recursos, e que deve ser levado em conta. Mesmo porque, baixo orçamento não é um impeditivo para contar boas histórias quando se tem técnica narrativa e criatividade para superar as limitações técnicas.
Infelizmente, porém, não posso dar esse mérito a Os Dragões. A tolerância que se dá a esse tipo de produção rapidamente se dissipa nos primeiros minutos, e isso se deve especialmente a um aspecto da obra, seus personagens. Trata-se de mais um caso em que os realizadores parecem não saber como pessoas funcionam. Além de diálogos nada naturais, os personagens se comportam de formas esquisitas em cada contexto. Amigos morrem, casas inteiras desaparecem (sem nenhuma explicação) e os atores reagem como se não tivessem nenhuma relação pessoal com o que está sendo perdido, retratando os protagonistas como seres quase apáticos e furtando qualquer tipo de emotividade dessa história.
Eles, que deveriam ser o nosso fio condutor da história, nos atraindo por seu carisma, seus dramas, e suas relações uns com os outros, aqui em Os Dragões não passam de adolescentes aborrecidos, que nada mais fazem do que reclamar e jogar desaforos para todos os lados.
Isso indica também um grande problema de direção de elenco e casting que se estende por toda a produção. As atuações aqui correspondem a um padrão de filme amador do tipo trash. Ora de forma cômica, ora extremamente incômoda, o elenco de Os Dragões deixa muito evidente a sua falta de experiência, quase como se a equipe de casting tivesse oferecido papéis de destaque para moradores comuns do vilarejo.
Durante o filme, eu até me puz em dúvida ao cogitar que talvez o meu pouco costume com o carregado sotaque gaúcho dos atores pudesse estar criando uma rejeição aos personagens, mas isso se estendeu até o terceiro ato. Quando os jovens são apresentados a um mestre de cerimônias de um circo itinerante, finalmente se vê um trabalho de ator em cena. Marcos Breda, que assume o papel, é o único integrante do elenco que, mesmo com sotaque, dá ao seu personagem alguma verdade cênica.
Seria incorreto dizer que não existe em Os Dragões, vontade e confiança em seu tema. Gustavo Spolidoro parece realmente querer falar sobre a juventude de uma pequena cidade gaúcha. Mas de forma geral, o que se vê em tela, ao meu ver, é uma tentativa falha de tentar imprimir uma estética jovem para assim cativar a identificação desse público e, ao mesmo tempo, entregar uma memória nostálgica de juventude ao público adulto. Tudo o que sobra é um sentimento de vergonha alheia e de oportunidade perdida.