Crítica escrita por João Pedro Ferreira

Sinopse: É o aniversário de 21 anos de Alex, mas ela está presa no fliperama em que trabalha, no turno da noite. Então, seus amigos decidem surpreendê-la, mas um assassino mascarado vestido como um personagem de desenhos animados decide jogar com eles um jogo que ela deve participar para sobreviver. Assim, um a um, os jovens ficam frente a frente com o seu destino, até que é a vez de Alex. Quem sobreviverá?

Após o ratinho mais famoso do mundo, protagonista de uma das maiores franquias globais, ter caído em domínio público, surgiu a oportunidade de criar novas narrativas e produtos baseados na versão de 1928 do personagem, sem a necessidade de autorização prévia da Disney. Isso possibilitou, por exemplo, o desenvolvimento de jogos como Infestation ’88 e até a produção de filmes slasher protagonizados por esse camundongo, de forma semelhante ao que aconteceu com o Ursinho Pooh. Ao entrar em domínio público, o personagem do ursinho foi reinventado em uma versão de terror, resultando no filme Ursinho Pooh: Sangue e Mel. Neste contexto, Ursinho Pooh: Sangue e Mel se destaca como uma obra surpreendentemente interessante, especialmente quando comparado a Mouse Trap, que, de forma quase paradoxal, se revela ainda mais decepcionante do que o próprio filme de terror do urso. O mais intrigante, no entanto, não é apenas a ousadia desses projetos, mas a qualidade das produções em si. Ursinho Pooh: Sangue e Mel, apesar de sua abordagem grotesca e provocadora, consegue manter um certo charme involuntário, mesmo ao zombar da pureza original do personagem, sem hesitar em explorar uma versão macabra e distorcida. Já Mouse Trap, que segue uma linha semelhante de subversão, perde completamente o rumo em sua tentativa de chocar e provocar, falhando em ser minimamente interessante ou coeso. De fato, Mouse Trap se torna um exemplo clássico de como a tentativa de “transgredir” personagens icônicos pode resultar em uma verdadeira catástrofe cinematográfica, com um produto insípido, sem propósito e completamente desinteressante.

O filme começa com um texto explicativo no estilo de Star Wars, afirmando que não pretende zombar da Disney e que admira suas obras. Contudo, essa justificativa é desnecessária, pois o personagem já pertence ao domínio público e a estética e tom da produção deixam claro que se trata de uma adaptação alternativa. A explicação soa redundante, pois os espectadores já reconhecem que não é um produto oficial. Ao invés de confiar na inteligência do público, a introdução enfraquece a proposta do filme, tornando-se excessivamente explicativa e subestimando a capacidade de compreensão do espectador.

A origem do Rato Assassino envolve uma cena em que o gerente da protagonista vai para o seu escritório e começa a assistir a um episódio de Mickey Mouse. Por algum motivo, que não é explicado, ele se vê atraído por uma máscara do Mickey que está guardada no local. Nesse momento, uma voz misteriosa vem da máscara, o que o leva a se aproximar. O filme corta a cena nesse ponto, deixando em suspense a identidade do assassino, mas a sugestão de que ele é o próprio “Rato Assassino” fica evidente. Embora a cena tente manter um certo mistério, a construção do personagem carece de maior profundidade e clareza, o que pode confundir o público. Ele se transforma no homicida  sem explicações claras ou desenvolvimento psicológico, e o filme, ao não explorar suas motivações ou relações, acaba se tornando distante e pouco envolvente.

Na cena em que Alex vê o rato assassino pela primeira vez, ela foge, mas ao esbarrar em seus amigos, que prepararam uma festa surpresa, rapidamente esquece o que aconteceu e começa a curtir a festa como se nada tivesse ocorrido. Esse comportamento diminui a credibilidade do enredo, prejudicando a tensão e a urgência que o filme tenta construir. A falta de uma reação emocional condizente com a gravidade da situação enfraquece a identificação do público com a protagonista e a sensação de perigo que ela enfrenta. A festa no fliperama, que poderia funcionar como alívio ou contraste, acaba por diluir a tensão, criando um anticlímax que afasta o espectador da trama.

As cenas de perseguição, embora presentes, não conseguem transmitir uma sensação de tensão genuína. O desenvolvimento da ação segue um caminho previsível, o que acaba por tornar as mortes mais anti climáticas. Um exemplo disso são os personagens que, ao se prepararem para momentos íntimos, se tornam as primeiras vítimas. Sua morte, apesar de esperada, não consegue gerar o impacto desejado, parecendo mais uma referência a um clichê do gênero do que uma virada surpreendente. Os diálogos, que mencionam a previsibilidade das situações, acabam por enfatizar essa falta de suspense. Em vez de criar uma atmosfera carregada de tensão, o filme parece não conseguir estabelecer uma conexão emocional forte com o público, o que é fundamental para um filme de terror eficaz. Isso faz com que o espectador perca o engajamento com a narrativa, deixando de lado a apreensão ou o medo que normalmente mantém a atenção e a imersão. A ausência de elementos mais impactantes diminui a intensidade emocional que é característica desse tipo de filme.

Mouse Trap tenta subverter a inocência do clássico de 1928, mas falha em sua proposta. A reinvenção do rato como um filme de terror carece de coerência e consistência, resultando em uma obra sem charme e sem propósito claro. Embora a tentativa de uma nova história com elementos de suspense e terror tenha potencial, assim tornando-se uma experiência desconexa e sem profundidade.

 

 

 

 

 

 

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