Crítica escrita por Giovana Lopes para a cobertura do 22º Festival Brasileiro de Cinema Universitário – FBCU

A Mostra Competitiva IV do Festival Brasileiro de Cinema Universitário trabalhou sua temática com grandes obras experimentais. Com temáticas que à primeira vista não parecem se relacionar, os curtas trataram de forma singular a ausência e a presença, tanto de pessoas quanto de sentimentos.

Monalisa (2024, Tainá Giovana Lima)

O curta de abertura da 4ª Mostra Competitiva Nacional do FBCU trouxe ao público diferentes formas de se enxergar o mundo. Assim como os filmes que serão mencionados posteriormente, utiliza de seu caráter experimental para trazer debates sobre o sentimento de se sentir representado na sociedade em que vive.

Ao abordar a vivência de uma menina que vive com um tampão no olho, somos levados a uma jornada sobre a infância e a importância de mantê-la viva em si mesmo. A presença dos personagens nas cenas remete à beleza e inocência dessa fase da vida, na qual mesmo em situações desagradáveis, somos lembrados de que a responsabilidade de nossa própria felicidade é apenas nossa.

Falando dos personagens, são eles que carregam a magia do curta. Mesmo sem uma relação explicitamente estabelecida, é visível que a presença de cada um é absolutamente necessária para os outros dois. Superando estereótipos de gênero e gerações, o laço construído ultrapassa qualquer barreira familiar e temporal. Em especial, a relação entre a menina e o homem traz uma perspectiva de uma figura masculina ocupando um lugar majoritariamente feminino, como essa presença praticamente maternal, com destaque para a cena na qual os dois dançam enquanto usam vestidos longos. Mesmo sendo uma cena simples, carrega um sentimento de pertencimento, e não importa o que aconteça, tudo ficará bem.

Penumbra (2023, Jonathan Aguiar Cruz)

Já no curta seguinte, somos apresentados a história mais narrativa da sessão. Um simples, porém impactante retrato da ausência, que ocorre na hora de maior solidão que temos, seja involuntária ou não: a madrugada.

A obra conta sobre um garoto que passa uma noite sozinho em casa sem luz, na penumbra. Ele é visitado pela avó, que coloca sobre si sua visão de mundo e expectativas tanto para o neto quanto para a filha, mãe do menino. Com uma incrível direção de atores, diálogos longos são construídos com uma facilidade em que o espectador se sente sentado à mesa com os dois. 

Além da diferença geracional, a expectativa que a avó tem entra em conflito com suas crenças religiosas. A presença inesperada dela traz ao menino a lembrança de sua ausência, e aos que assistem, a justificativa. Ao final fica claro, certas opiniões e perspectivas de mundo são melhores de se manter longe de sua própria luz interior.

Palavras Cruzadas (2023, Marthina Baldwin)

A terceira obra da sessão também lida com a ausência de uma maneira experimental que se difere completamente das demais. Com uma direção de arte fenomenal, o filme aborda o decorrer do tempo e o que se perde com ele.

A temática da covid e do luto da perda pela doença como algo inerente à idade, o curta lida com a solidão daqueles que permanecem e suas dores. Um trabalho sensível, que enfatiza como a pandemia foi um momento extremamente difícil tanto para quem foi afetado tanto direta quanto indiretamente pela doença.

Calaboca e Escuta (2022, Daniel Bretas)

O penúltimo curta da Mostra é o mais inovador da sessão. A necessidade de se estar realmente presente nos locais em que se encontra é a temática central da obra.

Em diversos locais e com cenas que trazem as mais diferentes sensações e emoções ao espectador, somos expostos a uma reflexão sobre: até que ponto prestamos atenção ao que estamos realmente fazendo e onde estamos?

Mesmo sem falas e sem um final propriamente dito, Calaboca e Escuta é um grande exemplo de como a linguagem possui diversas formas de se articular e inovar, e assim como obras tradicionalmente narrativas, pode trazer uma perspectiva brasileira nunca antes vista.

Antes que o sol escape (2024, Lia Fortes)

Por último, mas não menos importante, o quinto curta da mostra tem uma relação exatamente oposta à obra anterior, mostrando como a presença de alguém pode te levar a um estado de ausência do mundo ao redor.

A obra acompanha um casal de mulheres passando por uma dança, que se encerra quando o sol escapa, ou seja, quando ele se põe. Uma coreografia sobre o amor e sua urgência com uma simplicidade e beleza indescritível.

De maneira sensível, o curta encerrou a sessão com o sentimento da necessidade de se preservar o amor, e como a presença desse intensifica a existência daqueles que o sentem.

De modo geral, a sessão trabalhou diversos temas de diferentes formas, mas todas em torno de uma ideia: como se fazer mais presente nas suas relações e como isso muda sua forma de enxergar o mundo ao redor.

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