Crítica escrita por Valquíria Albuquerque para a cobertura do 22º Festival Brasileiro de Cinema Universitário – FBCU
A Mostra Competitiva III do Festival Brasileiro de Cinema Universitário tem a memória evidenciada através de divergentes narrativas, com filmes originais e únicos, mas que se encontram ao abordar a nostalgia e, muitas vezes, o sentimento de perda. Explorando o tema com artifícios cinematográficos, elementos visuais e sonoros além do tradicional, a curadoria da sessão garantiu uma experiência sensorial e emocionante.
O primeiro filme da sessão, “Sirius não é tão longe” (2023) de Nick Sanches, retrata o rompimento de uma relação, por conta da mudança de uma pessoa para outro estado. Os quadros são muito bonitos e conseguem unir uma sensação de aconchego com a perda, essa última é ainda mais interessante, pensando que elas ainda estavam juntas. O som é um elemento que possui grande destaque no filme, com o uso do silêncio e do barulho do ambiente como um aspecto narrativo muito presente e marcante na obra.
Em “Dona Biu” (2023), dirigido por Gabriela Taulois, a história de uma senhora benzedeira é evidenciada em uma belíssima animação. O curta-metragem apresenta um belo retrato de uma figura presente no cotidiano de muitos espectadores, às vezes como mera figurante, nessa narrativa sendo protagonista. Com o uso de cores vibrantes e símbolos religiosos, a composição de arte é um grande destaque da obra, extremamente brasileira.
“Animais Coloridos” (2023), de Angelo Pignaton, é um filme que consegue contagiar o público a partir de uma vivência do próprio diretor. Partindo dos olhares do operador de câmera e do fotógrafo observado, consegue-se estabelecer uma dinâmica extremamente única, de paternidade e ensinamento profissional. A falta de cor, em um ambiente tão colorido e tratando de uma profissão que utiliza tanto desse elemento, aumenta o foco no observador e não no objeto de foco.
A obra “Esse Navio vai Afundar” (2024), de Luc da Silveira, é uma experimentação visual e sonora, extremamente singular e interessante. Utilizando material de arquivo da própria família do realizador, o filme aborda um tema recorrente em famílias, a traição do marido, mas de uma maneira que foge do tradicional e prende a atenção do espectador. Um destaque são os efeitos visuais, unidos aos pulsos sonoros, que geram uma atmosfera sobrenatural ao filme.
Na obra “Urubu Aterrado” (2023), de Cris Souza, a sensibilidade prende o espectador desde seu início. Tratando de uma família que foi despejada da praia em que vivia, as relações entre memórias familiares nunca registradas e a tentativa do governo de apagar registros da existência daquela comunidade são abordadas através do cotidiano e dos depoimentos de saudade. O próprio diretor é um dos protagonistas da história e sua mãe possui papel de destaque na narrativa, pois relembra o tempo que viveram na praia. Os depoimentos são extremamente espontâneos, com perguntas feitas em conversas, e a sensibilidade se faz ainda mais presente na relação de cuidado, porém com grande independência, entre o filho e a mãe que é deficiente visual.
Em suma, a sessão, com filmes de estudantes de diversos estados do país, foi extremamente rica e conseguiu demonstrar a amplitude do cinema universitário brasileiro, com sua diversidade técnica e dramática.