Crítica escrita por João Pedro Ferreira.

Sinopse: José Carlos da Mata Machado, líder do Movimento Estudantil Brasileiro, participa de um grupo de resistência contra a ditadura militar no Brasil. Perseguido, deixa o conforto de uma vida burguesa para trabalhar com alfabetização e conscientização política no interior do nordeste, na clandestinidade. Baseado em uma história real.

O filme é uma biografia sobre José Carlos, militante no período da Ditadura Militar que começou sua trajetória na Ação Popular (AP), a qual, após uma divisão interna, evoluiu para a Ação Popular Marxista-Leninista (AMPL). A AMPL, sendo a maior facção da antiga AP, mantinha uma estreita relação com o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Durante esse período, José Carlos adotou diversos codinomes e nomes falsos para proteger sua identidade e garantir sua segurança. Entre esses nomes, “Zé” é o que dá título ao filme. O longa-metragem pode inicialmente sugerir um filme de ação intensa, semelhante a Marighella (2019), que também é ambientado na época da Ditadura. No entanto, (2024) adota uma abordagem distinta. Embora inclua cenas de José e sua esposa, Madalena, participando de manifestações, e de outros personagens evitando a polícia, não se configura como um filme de ação. A maior parte da obra consiste em diálogos e momentos que evocam o estilo slice of life, caracterizado pela representação realista de situações e momentos cotidianos. A ditadura serve como pano de fundo para esses momentos na narrativa. A relação entre José e Madalena é central, pois ela aspira a uma vida tranquila fora do país, enquanto ele argumenta que a fuga é perigosa e que devem permanecer escondidos.

A narrativa do filme pode se tornar excessivamente cansativa devido à insistência em reiterar certos pontos e informações, o que resulta em uma experiência redundante e desgastante. Apesar da vida clandestina ser retratada de forma concreta, evidenciando uma rotina restritiva e carregada de medo, a repetição obsessiva do discurso prejudica o fluxo da narrativa, especialmente quando a montagem é desorganizada. Além disso, a contextualização necessária não é fornecida quando requerida, resultando em uma linha temporal confusa e desprovida de coesão. 

Em determinados momentos, a câmera adota uma abordagem fixa sobre certas locações, locações essas que são lugares fechados que ajudam a criar uma sensação quase claustrofóbica, possivelmente para refletir o estado de sufocamento e medo vivido pelos personagens durante esse período de tensão no país. Embora não seja uma técnica utilizada constantemente, a maior parte do filme faz uso dessa abordagem. Além disso, há diálogos em que a voz dos personagens é modificada com um efeito de rádio, o que confere a impressão de que a comunicação está sendo captada por um dispositivo de escuta, sugerindo que eles estão sob vigilância.

O filme menciona as torturas perpetradas pelos militares contra os opositores da Ditadura, mas opta por não exibir essas brutalidades explicitamente. No entanto, há uma cena que, embora não seja particularmente gráfica, evoca uma sensação de agonia devido ao conhecimento de que muitas pessoas da época vivenciaram essas experiências. A cena, portanto, torna-se verdadeiramente angustiante: cena essa em que um policial toca com um cigarro na região onde uma personagem foi baleada.

é uma obra que se afasta do gênero de ação ao adotar o estilo slice of life, oferecendo uma narrativa que pode, por vezes, ser cansativa e repetitiva, refletindo a opressão da Ditadura através de diálogos e técnicas visuais. Embora não exiba torturas explicitamente, a abordagem resulta em cenas angustiantes, que evocam o sofrimento da época. É, no entanto, uma obra importante para ilustrar os horrores desse período histórico.

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