Crítica escrita por Vinícius Romero Silveira.

Sinopse: Em 1979, Magal, um dos artistas mais populares e celebrados do país, segue a rotina de shows e compromissos em Salvador. Durante um programa de TV, conhece a deslumbrante Magali e é acometido por uma paixão inédita e avassaladora. Para conquistá-la, precisará vencer a resistência de Jean Pierre, seu empresário passional, além da desconfiança da família, amigos e da própria Magali. Embalado por grandes sucessos, o filme MEU SANGUE FERVE POR VOCÊ narra os encontros e desencontros dessa explosão de amor que mudará para sempre a vida do casal Magal e Magali

Lembro-me de ouvir Meu Sangue Ferve Por Você pela primeira vez em 2012, na segunda temporada de Tapas e Beijos. Lembro melhor ainda quando essa música tocava e do porquê tocava: ela entrava em cena quando o casal Jorge e Sueli estava se entregando entre os tapas e os beijos ao seu amor. Essa música foi escolhida para ser parte integrante da persona desses personagens justamente porque narrava muito bem a fervura entre eles e vazava o calor do seus desejos para fora das telas, uma vez que, apesar de obviamente não vermos o sangue ferver, literalmente, nas veias dos protagonistas enquanto juntos, a música, aliada à química entre o Fábio Assunção e a Andrea Beltrão, supria totalmente essa necessidade até porque é para isso que a mistura de todos os sentidos no cinema servem, expôr o que não seria possível por meios convencionais. 12 anos depois, eu vou para a sala de cinema ver o filme da história de amor do Sidney Magal e da Magali West, sua esposa, e entendo, mais do que nunca, que, antes de Jorge e Sueli sequer desejarem ser só um do outro, prisioneiros de um amor que chega a ferver o corpo, Magal, lá em 1979, já havia escrito sobre a realidade uma história verdadeira, apesar de quase fabular, e fervente, de um amor clichê cinematográfico. Sendo assim, é isso que vemos no filme, as histórias de amor do Magal, cuja caracterização física seria a de uma pista de duas camadas a música e a Magali que, apesar de distintas, existem lado a lado inspirando uma à outra há mais de 40 anos. Para mim, o filme atinge o mesmo potencial de uma impressora 3D que cospe coisas quase reais: ele imprime a personalidade exata do Magal, ou seja: há breguice para todos os lados no cantor e no longa-metragem fazendo, assim, com que seja difícil os fãs de carteirinha não o aprovarem.

A primeira cena é um aviso, ou melhor, uma nomeação. Esta obra definitivamente não é documental, mas muito menos completamente ficcional. Essa obra é a realidade e a ficção “magalesca”, fundidas com uma única intenção: estabelecer que, independente do quanto do filme for real ou não, a história de amor de Sidney Magal e Magali West foi desenhada pelo Destino, seja ele quem for. E é importante deixar claro, caso ainda não tenha ficado, que esta não é uma cinebiografia comum: se trata do AMOR ENTRE Magal e Magali, partindo do ponto em que o homem já é uma estrela, portanto, não esperem a retratação da trajetória do Sidney Magalhães ao Sidney Magal. Dessa forma, eu, admirado com a história de amor acontecendo frente aos meus meus olhos, como qualquer curioso, me atentei a pesquisar e a responder as minhas dúvidas sobre quais verdades o filme abraça e quais invenções ele emprega e, para agregar a essa crítica, decidi trazer a fofoca para cá: os apaixonados realmente se conheceram na entrega do prêmio do “Concurso da Mais Bela da Bahia” e Magal, assim que bateu os olhos em Magali, disse que a amava, que eles se casariam e que ficariam juntos para sempre, porém, ele, também, realmente não contou que já vivia há 4 anos com outra mulher, na qual desejava todo aquele amor público, enquanto permanecia escondida em um apartamento no Rio de Janeiro, trazendo, assim, à tona, para mim, o fato de que, antigamente, era bem comum que muitas namoradas, e até esposas, de galãs da música, os quais ganhavam as fãs, principalmente através da sensualidade e, só depois, com as canções, tivessem que se ausentar de andar lado a lado do artista, uma vez que, para os agentes da época, bem representados no filme por Caco Ciocler, que dá vida a Jean Pierre, enquanto cada fã acreditasse que fosse, ela mesma, a mulher da vida do seu ídolo, este seria um sucesso. 

Além disso, uma coisa impossível de deixar de fora dessa crítica é o formato musical do filme. Eu não sou de assistir musicais, mas os poucos que vi me ensinaram que a emoção do personagem toma forma na música e na dança, indo além da concretização das expressões faciais e das palavras conversadas. No contexto de Meu Sangue Ferve por Você, é isso que tentam fazer. Funciona em alguns momentos, mas, em outros, deixa a desejar ao não acontecer de maneira espontânea, mas sim exageradamente pastelona, como por exemplo, quando Magali está voltando para casa cabisbaixa e, de repente, é tomada por uma alegria repentina, começando a dançar junto a outras pessoas em uma das ruas coloridas do Pelourinho, como se tivesse rompido a quarta parede entre a ficção e a realidade e ignorasse a diegese dos sentimentos da sua realidade. Aliás, aproveitando o gancho dessa cena, quero comentar também os efeitos visuais de pós-produção desse filme, os quais, apesar de parecerem ter sido selecionados a dedo de um vídeo de casamento dos anos 2000, cumprem um papel importante de demarcar com excelência o território em que estamos pisando: assistir a esse enredo é como invadir as veias de Magal e assistir à fervura do seu sangue, bombeando paixão. As cores são intensas, o drama é nítido e um pacto entre obra e espectador se torna a única opção para seguir adiante: não há como narrar a paixão do homem que escreveu “Me chama que eu vou” de outra maneira e, então, sem saída, apertamos as mãos da diegese-pastelão do filme, abraçamos a breguice e seguimos entregues à diversão. Certo é que, daí para frente, tudo passa muito depressa, é divertido e o que eu acho que permite esse fluxo é o fato de que todas as situações que poderiam gerar dramas gigantescos, caso fossem em novelas da Globo, aqui são resolvidas com leveza e encaradas com o entendimento de que, na vida, as coisas mudam e, às vezes, a compreensão cabe mais do que o drama, o barraco e os 200 capítulos, na narrativa novelizada, de um personagem tentando conquistar o que não é para ser seu. Por fim, na última cena do filme, enquanto Filipe Bragança, cuja voz lembra realmente a voz de Sidney, e Giovanna Cordeiro cantam no palco, o verdadeiro Magal o invade, se junta a eles e dá continuidade ao show. Também, a verdadeira Magali é mostrada na plateia, aplaudindo o marido. Afinal de contas, Magal sempre esteve certo, desde quando conheceu a mulher até o dia em que escreveu Sandra Rosa Madalena, dentro deles existe uma chama ainda acesa, que se inflama quando um está perto do outro e, nitidamente, ambos desejam ser o princípio, como foram tão novos, e o fim um do outro, eternamente juntos.

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