Crítica escrita por Mateus José.
Sinopse: Após os acontecimentos do primeiro filme, uma raiva destrutiva cresce à medida que o Ursinho Pooh, Leitão, Tigrão, Coelho e o Corujão encontram sua casa e suas vidas em perigo depois que Christopher Robin revela suas existências. Não querendo mais viver nas sombras, eles decidem embarcar em uma onda de assassinatos pela cidade de Ashdown e se vingar de Christopher de uma vez por todas.
Assim como o primeiro filme, Ursinho Pooh: Sangue e Mel Parte II começa com uma animação 2D, passando um breve resumo do que aconteceu no primeiro filme. Recapitulando: Após serem deixados no Bosque dos Cem Acres à própria sorte por Christopher Robin (Nikolai Leon), Pooh e seu grupo tornam-se monstros violentos. Quando ele retorna ao bosque para rever seus velhos amigos, depara-se com Pooh (Craig David Dowsett) e Leitão (Chris Cordell), que o capturam e o torturam. Enquanto isso, um grupo de amigas hospeda-se em uma cabana no bosque, despertando ainda mais a ira de Pooh e Leitão, que iniciam uma matança em série, posteriormente conhecida como O Massacre do Bosque dos Cem Acres.
Então, chegamos a Ursinho Pooh: Sangue e Mel Parte II que continua os eventos do primeiro filme. Após sobreviver ao Massacre do Bosque dos Cem Acres, Christopher Robin (Scott Chambers) retorna à cidade de Ashdown, onde é responsabilizado pelas mortes e se torna persona non grata. Enquanto isso, Pooh (Ryan Oliva), Leitão (Eddy MacKenzie), Corujão (Marcus Massey) e Tigrão (Lewis Santer) têm que se esconder, uma vez que o lançamento de uma adaptação cinematográfica baseada no massacre desperta a ira da população de Ashdown, que vai à caça dos responsáveis. Dispostos a se vingar de Christopher Robin, Pooh e seu grupo vão para a cidade, deixando um rastro de sangue por onde passam.
Contando novamente com a produção da Jagged Edge Productions, e mantendo a direção de Rhys Frake-Waterfield, mas desta vez dividindo o roteiro entre Rhys e Matt Leslie, Ursinho Pooh: Sangue e Mel Parte II chega ao Brasil em 2024, com distribuição da Imagem Filmes, que substitui a Califórnia Filmes, responsável pela distribuição do primeiro longa da franquia no país.
Ao serem abandonados no primeiro filme, Pooh e seus amigos abdicam de seu lado humano e juram nunca mais voltar a falar, juramento que é quebrado na cena final do próprio filme, quando Pooh diz a Christopher Robin que eles ficaram daquele jeito e começaram a matar porque ele foi embora. No contexto parece justificável, porém em Ursinho Pooh Sangue e Mel II esse juramento foi totalmente esquecido e os personagens falam a todo o momento, do início ao fim do filme.
Mesmo possuindo uma história superior a do primeiro filme, o roteiro ainda está muito longe de ser bom. Por exemplo, ainda no primeiro ato do filme, na cena em que Christopher Robin está em uma sessão de hipnoterapia, o diálogo entre ele e a terapeuta soa estranho e pouco natural, mas não de uma maneira proposital por ser um tema sensível para o personagem, mas de maneira atabalhoada e boba, os próprios atores parecem desorientados da maneira de interpretar o texto. Ademais a terapeuta tem falas rasas e respostas prontas – que qualquer criança poderia dar – tirando qualquer veracidade da personagem.
É difícil levar Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2 a sério quando os realizadores parecem ter vergonha do próprio trabalho e tentam apagar o fiasco da primeira produção, se auto referenciando em sua continuação. O tal “filme” sobre o massacre do Bosque dos Cem Acres citado anteriormente, nada mais é do que trechos retirados do primeiro longa. Se o filme não se levasse tão a sério, cenas como a de Pooh levantando o queixo de Christopher Robin com o dedo – quase em câmera lenta – poderiam render boas risadas, mas a insistência em um tom sombrio e tomadas longas fazem o filme ser só mais um trash com muita vergonha alheia.
O diretor até se esforça para criar cenas inventivas e interessantes, mas não consegue criar momentos de real tensão. Por exemplo: quando a babá Lexy (Tallulah Evans) e Finn (Flynn Matthews), o garoto de quem ela está cuidando, estão escondendo-se de Tigrão debaixo de um lençol, percebemos pelo som que ele está se aproximando dos personagens. Em vez de aproveitar para criar um momento de tensão, o diretor opta por apenas mostrar os personagens fugindo do lugar de onde estão e Tigrão fica praticamente inerte enquanto ambos fogem. Rhys ainda insiste em tremer a câmera copiosamente durante as cenas de matança, o que desorienta o espectador.
Sobre as atuações, o ator Scott Chambers – que dá vida ao protagonista Christopher Robin – está longe de ser um poço de carisma, mantendo a mesma expressão durante os 100 minutos de duração do filme. Os demais personagens estão aqui apenas para servir de apoio emocional para Scott e sacos de carne para Pooh e seus amigos se divertirem.
Em aspectos técnicos, a maquiagem teve um aprimoramento em relação ao primeiro capítulo. Dessa vez, os personagens possuem um design próprio, não são “Toninho e Tonhão” mascarados como no primeiro filme. Vale o destaque para o personagem do Corujão, que ao meu ver é o personagem com o design mais interessante dentre os demais. Contudo, os efeitos de sangue de CGI tornam as cenas de gore toscas. Além disso, o maior erro do redesign dos personagens foi tirar o mel que ficava pingando da boca de Pooh, presente no primeiro filme. Isso lhe dava um ar de Alien: O Oitavo Passageiro, além de tornar o personagem mais bizarro e ameaçador. No segundo capítulo, o mel não está presente, o que inclusive mata o título “Sangue e Mel”. A montagem salva-se, trazendo cortes dinâmicos e precisos, compensando a falta de competência do diretor em criar tensão em suas cenas.
Como se tudo não bastasse, na tentativa de criar um arco dramático denso e um grande plot twist, o terceiro ato do filme é repleto de diálogos expositivos. Nele acompanhamos uma cena totalmente Deus ex-machina, onde Christopher Robin encontra ao mais completo acaso o homem que sequestrou seu irmão na infância. Assim acompanhamos uma longa e penosa cena do sequestrador contando como tudo aconteceu.
O filme termina com o confronto final entre Pooh e Christopher Robin, que a princípio é até interessante. Pooh persegue Christopher Robin com uma serra elétrica e o cerca em um ferro velho, mas a cena perde sua força quando o roteiro tenta forçar um sentimentalismo barato por parte do antagonista. Nos créditos, fica evidente o desejo do diretor de criar seu UCM ou “The Twisted Childhood Universe” (TCU), como nomeou Rhys Frake-Waterfield. Como também não pode faltar num filme caça-níquel, ele deixa o futuro dos personagens em aberto numa cena pós-créditos mais forçada do que nota de trinta reais.
O segundo capítulo termina deixando um sabor melhor do que o seu antecessor, apesar de todos os defeitos. Consigo, também, perceber características e referências claras a clássicos do terror como Sexta-Feira 13 e Halloween. Penso que a franquia poderia dar bons frutos aos amantes de terror, se os realizadores se preocupassem mais com a qualidade do que necessariamente com o valor de produção.