Texto escrito por Helena de Araujo Zimbrão.
(Uma nota rápida sobre a experiência pulsante que é estar no cinema. Escrevo ainda em êxtase.)
É no cinema que a magia acontece. Não, não me refiro ao apagar das luzes e à imagem projetada na tela. Falo aqui sobre o antes e o depois do filme.
A noite de 10 de janeiro de 2023 foi uma noite movimentada para o Estação Net Botafogo. Haviam três sessões especiais acontecendo ao mesmo tempo, em cada uma das salas do pequeno cinema de rua. Na sala 3, Sessão Bruta, vencedor da Mostra Tiradentes, integrava a Mostra Que Desejo 2023: uma curadoria de filmes sobre temáticas LGBTQIA+ com foco em sexualidade, gênero e desejo. Na sala 2, o lançamento do curta de Sandra Seixas, Onde Mora Você Em Mim, lotou seis sessões seguidas a fim de comportar todos os convidados no local. Na sala 1, o vencedor do Festival de Locarno, Regra 34, tinha sua pré-estreia em uma sessão com convidados especiais, seguida de um debate sobre o filme com a diretora Julia Murat, a protagonista Sol Miranda e demais membros da equipe.
Eu tinha convites para assistir Onde Mora Você Em Mim. Não sabia que a sessão contaria com performances ao vivo que nos convidavam a presenciar outras manifestações artísticas dentro da sala de cinema que não apenas o filme: músicos e dançarinas levavam o público à tridimensionalidade da obra de Angel Vianna, protagonista do curta. Foi a primeira surpresa boa da noite. A segunda foi ver o Estação Botafogo apertado, cheio de gente, com programações diferentes nas três salas – duas delas estavam fechadas até pouco tempo atrás! A terceira foi encontrar tantas pessoas queridas por acaso. E desse encontro, acabei caindo de paraquedas na sala 1 e pude ver Regra 34 sentada no chão da sala, que estava lotada. Mais uma vez, na mesma noite, eu experienciava a sala de cinema de maneira não convencional, assistindo ao filme por outro ângulo, sentindo o corpo afetado pelas imagens, pelo momento e pelo local em que me encontrava.
O Cinema – com C maiúsculo, a forma de arte – deve ser entendido como algo vivo. O cinema – com c minúsculo, o espaço físico – também. O Estação Botafogo esteve vivo nessa noite. Ali não era um mero espaço para exibição de filmes, era um lugar de encontros, de surpresas, de performances, debates, deslocamentos etc. Eram nos antes e nos depois dos filmes que os durantes se perpetuavam.
E pra fechar a noite: festchenha! Fomos todos caminhando em procissão até o Estação Net Rio, para a festa de encerramento dessa noite tão especial. De novo, os espaços sendo ressignificados; o salão do Estação Net Rio tinha virado uma pista de dança, a bomboniere tinha virado barzinho. O cinema celebrando o Cinema, resistindo ao esvaziamento de suas salas – agravado pela pandemia e pelo crescimento das plataformas de streaming – através da elaboração de novos sentidos para o espaço. A iniciativa e o trabalho do Grupo Estação em parceria com a Cavideo mantêm o cinema de rua vivão e vivendo!
