Esta crítica foi publicada originalmente no site do Festival Cabíria, um festival dedicado ao cinema de mulheres. A crítica foi desenvolvida durante o festival, através da Oficina de Crítica Cinematográfica, ministrada por Flávia Guerra.
Em “Mulheres da Minha Família” (2021), a cineasta alemã Alissa Sophie Larkamp, resgata a história familiar das mulheres de sua família como uma forma de investigar sua própria subjetividade. Tanto a memória quanto a identidade se transformam e são modificados pelos sujeitos ao longo da vida. E, como a diretora apresenta no curta-metragem, os vídeos caseiros são uma forma peculiar de lembrança porque podem ser revisitados, pausados e editados. É por meio da linguagem documental, mesclando imagens de arquivo familiar com relatos e fantasias narradas em voice over pela própria realizadora, que “Mulheres da Minha Família” costura a memória familiar a partir da experiência feminina.
Se o trabalho doméstico e o cuidado materno foram considerados temas menores, para a documentarista, são estes relatos que interessam. Sua avó era dona de casa. Contudo, a certidão de casamento dizia que ela não tinha profissão, o que evidencia a forma que o patriarcado desconsiderou o trabalho doméstico como um trabalho, como se fosse uma função naturalmente feminina e sem importância. No entanto, Silvia Federici nos lembra que o capitalismo se sustenta por meio destes trabalhos não remunerados das mulheres. Ao investigar a vida de sua mãe, avó e bisavó, a diretora reflete sobre como a condição das mulheres no núcleo familiar e a posição que estas ocupam na sociedade trazem consequências para a forma como as mulheres vivenciam o mundo. De forma delicada, “Mulheres de Minha Família” consegue criar um retrato afetivo da memória familiar utilizando um excelente recorte: a história invisível feminina. Por meio dos relatos pessoais, desenhos de infância, fotos e vídeos familiares, Alissa Sophie Larkamp ressignifica a memória para construir sua própria identidade.