Crítica escrita por Edeizi Monteiro Metello.

Sinopse: Após o assassinato do Presidente Park, a lei marcial é decretada. Um golpe de Estado é liderado pelo Comandante de Segurança da Defesa, Chun Doo-gwang (Hwang Jung-min), junto a um grupo de oficiais. O obstinado Comandante da Defesa da Capital, Lee Tae-shin (Jung Woo-sung), acredita que o exército não deve agir politicamente e enfrenta Chun para detê-lo. No caos crescente, enquanto líderes militares hesitam e o Ministro da Defesa está desaparecido, o destino da primavera de Seul toma um rumo inesperado.

“O ditador que governou por 18 anos se foi. Mas uma nova era cheia de esperança não chegou, e aqueles que cobiçavam o vazio deixado pelo poder trouxeram uma escuridão ainda maior. Essa é a história daquele inverno que foi cuidadosamente escondida.”

Baseado em eventos reais, 12.12: O dia (2023, Sung Soo Kim) se inicia com essas palavras. O filme retrata o ocorrido após o assassinato do Presidente Park, em 1979, na Coreia do Sul, com a lei marcial sendo decretada logo em seguida. O Comandante de Segurança da Defesa, Chun Doo-gwang (Hwang Jung-min) e seus oficiais lidera um golpe de Estado. Enquanto isso, o Comandante de Defesa da Capital, Lee Tae-shin (Jung Woo-sung) busca parar Chun. O Ministro da Defesa desaparece enquanto os militares evitam agir, e a primavera de Seul chega a um fim sombrio.

O longa altera nomes de pessoas reais para contar a história, bem como alguns eventos foram modificados.

A obra constrói a atmosfera de tensão desde o início, no confinamento do ambiente militar, e com a notícia do assassinato. O filme dá destaque para o herói, Lee Tae-shin, que será não somente o escolhido para enfrentar Chun Doo-gwang, mas também se tornará um símbolo de resistência que lhe será imposto ao longo da narrativa.

Apesar disso, é possível ver que há uma preocupação maior em mostrar o desenrolar dos acontecimentos que os personagens em si. Os militares acabam por ser, em grande parte, peças em um jogo, também simbolizado no jogo de Go de Chun Doo-gwang durante o filme.

A narrativa faz o mesmo movimento de jogo, quando aparentemente os militares que são contra o golpe fazem um movimento contra Chun Doo-gwang, e um possível limiar de impedimento do golpe surge. Os aliados de Chun se desesperam, mas ele continua obstinado, com uma frieza calculada e impressionante de Hwang Jung-min para o personagem.

A favor de Chun estão as burocracias do funcionamento do Estado, que também estão contra o herói derrotado Lee.

Lee é um modelo exemplar de Comandante, de acordo com os militares que trabalham com ele, e é motivado por seu Chefe de Estado Maior, Jeong Sang-ho (Lee Sung-min). Não quer se envolver em “política”, mas inevitavelmente se envolve, no que a narrativa define como política, que é impedir um golpe de Estado.

Lee é desenhado como mais humano que o vilão Chun. O personagem possui algumas cenas de cotidiano com a esposa, a qual fala de refeições e qual roupa vestir. Essas cenas são um bom respiro entre os momentos de tensão militar e dos ataques e ameaças que permeiam a trama.

Jeong é uma peça que impede Chun de orquestrar o seu golpe, e Jeong também desconfia de Chun. Ao colocar Lee para assumir o posto de Comandante, Jeong cria uma resistência. Porém, Jeong perde em números para o grupo de Chun, e é a partir desse ponto que o tom da obra muda para um sofrimento que vem aos poucos, mas que vem com certeza. Isso pode ser observado na cena na qual Jeong está conversando com Lee e existe um plano plongée que o separa de Lee, com uma árvore retorcida entre eles. Ambos estão isolados, e o plano é apenas o prenúncio da catástrofe.

Uma característica interessante é o uso de luz e sombra para definir a natureza dos personagens. Em múltiplos momentos, o filme usa da escuridão para falar, justamente, da “escuridão” citada pelo texto inicial, como nos momentos da reunião da Hanahoe, grupo composto por oficiais militares e que tem a intenção de tomar o poder e “purificar” a nação. Isso também ocorre na apresentação de personagens que fazem parte da organização, quando Chun está em uma sala sozinho com um dos membros e seu rosto está parcialmente escurecido.

Um dos pontos altos do filme é a conversa de Lee com sua esposa, nos minutos finais do filme. Lee (e o Estado) estão encurralados, e só resta enfrentar Chun com força total, com o que resta dos militares ao lado dele. Ele está em uma ligação com sua esposa, que fala do cachecol que ela lhe entregou anteriormente. Ela o diz para vestí-lo, pois lá fora está muito frio.

Lee, um personagem que não faz muitas expressões faciais, traz consigo todo o desalento de uma batalha perdida ao usar o cachecol que sua esposa havia mencionado. Junto com o cachecol, ele veste uma última tentativa de coragem. Ali, ele assume totalmente o papel da resistência coreana, mesmo frente a tempos sombrios e frios.

Esse papel é coroado quando, na última tentativa de parar Chun, que também resultou em falha, Lee supera todos os obstáculos que o separa de Chun para dizê-lo que ele, Chun, não é humano.

Esse desalento é carregado até as cenas finais do filme, que são compostas por uma montagem de planos de Chun e o Hanahoe, comemorando, cantando e dançando, e Lee e Jeong privados de liberdade, completamente debilitados. É uma vitória vazia que levou a tempos ainda mais sombrios, também servindo como um alerta do que está por vir, já que os envolvidos no golpe estiveram em posições de poder por muito tempo.

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