Sinopse: A épica aventura acompanha a jornada de uma robô — a unidade ROZZUM 7134, “Roz” — que naufraga em uma ilha desabitada e precisa aprender a se adaptar ao ambiente hostil, construindo pouco a pouco relacionamentos com os animais nativos e até adotando um filhotinho de ganso órfão.

Robô Selvagem (2024) é um filme que eu tinha interesse em assistir, mas não procurei nenhuma informação sobre a trama. Meu único contato até então foi o primeiro trailer, lançado em março deste ano; os visuais estonteantes e o nome de Chris Sanders (Como Treinar o Seu Dragão, Lilo & Stitch e Os Croods) foram o suficiente para me convencer a assistir ao filme. Por fim, em uma tarde entediante, decidi ir ao cinema de forma despretensiosa e, felizmente, fui surpreendido. Não há palavras para descrever o quão satisfatória foi a experiência de mergulhar em Robô Selvagem e ser completamente tomado pela fantasia que o filme propôs. No fim, saí ainda mais realizado ao notar que Robô Selvagem, com sua sensibilidade, já se colocava na linha de frente dos filmes considerados “clássicos instantâneos”.

O principal chamariz do filme é sua animação, que, de fato, é deslumbrante. Seguindo a nova tendência dos filmes animados, Robô Selvagem apresenta um visual tão lindo que chega a ser estonteante. Desde os primeiros minutos da obra, somos inundados por uma animação belíssima, muito similar à de Gato de Botas 2: O Último Pedido(2023), onde cada cena parece pintada meticulosamente em aquarela. Esse visual, ainda inovador para o cinema de animação, tem o poder de capturar o olhar do espectador de forma única, principalmente ao se unir a um design de personagens muito bem executado, como já é costume nos filmes de Chris Sanders. Há diferentes referências visuais de outras animações; é fácil comparar Roz a Eva de Wall-E (2008) ou Astuto a Nick de Zootopia (2016). Embora essas referências sejam evidentes, não tiram os aspectos únicos da animação.

Mas, diferente de muitos filmes que apostam alto na qualidade estética (vide Tartarugas Ninjas: Caos Mutante e Os Caras Malvados), Robô Selvagem tem seu grandioso coração fortalecido pela narrativa. Aqui, acompanhamos Roz, uma robô que cai em uma ilha remota. Programada para cumprir tarefas ordenadas pelos humanos, ela fica completamente sem rumo nessa ilha habitada apenas por animais silvestres. A partir disso, precisa aprender a se conectar com a natureza e se adaptar ao local.

Embora pareça simples, a dinâmica do filme muda constantemente. O que acabei de comentar ocorre apenas nos minutos iniciais do filme, e essa riqueza de conflitos e tramas traz à animação um charme único, mas mantendo sempre seu cerne: a maternidade. Roz é uma personagem muito interessante de acompanhar; sua ingenuidade em relação ao ambiente cria uma tensão que permeia o longa. Ver essa personagem, passo a passo, se tornando cada vez mais “humana” ao observar unicamente a natureza, desprovida de humanidade, foi uma das minhas maiores surpresas. Há uma sensibilidade nessa jornada que toca a alma, principalmente ao conhecermos outros personagens e observarmos suas relações.

Bico-Vivo, o pequeno filhote de ganso adotado por Roz, e Astuto, uma teimosa raposa, são personagens coadjuvantes, mas tão marcantes quanto a protagonista. Juntos, formam uma família disfuncional que precisa enfrentar os desafios da natureza selvagem, sendo constantemente alvos de feras maiores, e ainda ensinar Bico-Vivo a se adaptar para sobreviver ao rigoroso inverno. À medida que a trama avança, vemos o quão hostil é o ambiente ao redor. Não me lembro do último filme animado e infantil que assisti que incluía tanta morte (e que, por vezes, ainda fazia humor com isso). A hostilidade do ambiente, atinge Roz que vai se deteriorando conforme o filme avança; seu visual metálico e futurista inicial cede lugar à sujeira, ferrugem, musgo e peças quebradas. As marcas que essa jornada deixa nela e nos outros personagens lembram o quanto aquele ambiente, que outrora era só um lugar, se torna parte vital de suas vidas.

Não é difícil que um filme consiga me comover – já perdi as contas de quantos filmes medíocres me emocionaram. Todavia, Robô Selvagem vai além. Embora a maternidade seja o tema central da história, a figura protetora de Roz, a descontração educativa de Astuto e o carisma de Bico-Vivo conseguem evocar no espectador toda a experiência familiar e educativa. Aqueles momentos típicos de cuidado entre pessoas são replicados aqui de maneira tão singela e sutil que geram identificação em qualquer um que já tenha vivido experiências semelhantes. O maior catalisador de toda essa emoção é uma cena em particular, em que os personagens não só compartilham uma relação carinhosa entre si, mas expandem esse carinho para cada personagem que cruzou seu caminho — uma cena que certamente ficará no imaginário de muitos pela tensão e emoção exímias.

Com uma narrativa envolvente e cheia de surpresas, o filme não para de nos surpreender com novas dinâmicas entre os personagens. Adorei, por exemplo, a vilã introduzida tardiamente na história, que é extremamente carismática. Esse filme traz um leque de personagens com pouco tempo de tela, mas que geram simpatia, seja pela personalidade expressa na dublagem ou pelo design. Por isso, quando o ápice da história chega, estamos preocupados não apenas com o bem-estar dos protagonistas, mas de cada ser naquela ilha.

Ainda que olhe para o que o futuro é capaz de proporcionar, o longa nos oferece uma trégua da turbulência do dia a dia para apreciar a beleza natural do mundo. Mesmo em estado catastrófico, tomado pela neve ou por chamas, a ilha é um deslumbre para os olhos e um deleite para os sentidos. A trilha sonora de Kris Bowers e o trabalho de som são cruciais para a eficácia da obra.

Considerada por muitos a melhor animação de 2024, Robô Selvagem é como uma montanha-russa que só sobe, com uma adrenalina crescente e uma emoção cada vez mais intensa. Além de todo o primor técnico, acompanhar a jornada de Roz e sua família selvagem é uma experiência que não esquecerei tão cedo, e que já me deixa ansioso por continuações.

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