Crítica escrita por Miguel Henrique da Silva para a Maratona Adrenalina Pura.

Sinopse: Mergulhe na história de um herói rico e sofisticado cuja vida vira de cabeça para baixo com a chegada de uma atrevida universitária que destruirá tudo o que ele tem ou o tornará o mais feliz possível.

Sugar Baby (2024) é o filme de estreia do diretor russo Alexandre Prost, protagonizado por Angelina Zagrebina interpretando Alla, uma jovem que decide se tornar sugar baby, e por Daniil Vorobyov, interpretando Andrey Bulygin, um empresário de sucesso viciado em sexo. Inclusive, não é o primeiro filme sobre relacionamentos sugar que Daniil Vorobyov participa, em 2013, o ator estava presente no elenco de Garotos do Leste (2013), interpretando o “Chefe”, um personagem não muito diferente de Andrey.

Logo no início, a câmera conta aos espectadores quem é Andrey Bulygn, sua primeira aparição é em um hotel caro, acompanhado de duas mulheres nuas. No decorrer do filme, percebe-se mais sobre sua parte superficial: Andrey aparenta ser um “lobo de Wall Street” russo, um empresário rico, viciado em sexo, péssimo marido e atraído por garotas mais novas, e com destaque a uma gigante habilidade de criar problemas que arriscam sua vida invejável. Andrey utiliza um site para contratar sugar babies — que é como sua droga, é sempre urgente, não há hora nem lugar, é mais que um dever — é nesse site em que ele conhece Alla.

De outro modo, apresentada em uma atmosfera totalmente diferente, conhecemos a futura obsessão do empresário: Alla. Ela trancou a faculdade, está desempregada, tem uma péssima relação com sua mãe, pixa alguns muros e sai para festas com frequência, ou seja, uma jovem não muito fora do normal, e é exatamente essa juventude que Andrey busca. Além disso, junto da protagonista, há uma figura tão dominante quanto Andrey: Irina Grigorievna, mãe de Alla e promotora de justiça. Sua presença é intimidadora, ela cumprirá com seu papel de mãe e fará de tudo para impedir o relacionamento de sua filha. Os embates entre Andrey e Irina é um dos pontos altos do filme, a habilidade do roteiro hipnotiza os espectadores a ver Irina como vilã, ainda que sua intenção seja fazer sua filha voltar para faculdade e deixar de ser sugar baby, e o maníaco sexual, Andrey, como vítima.

A relação de Alla e Andrey evolui de modo que cada um se torna mais parecido com o outro. De certo modo, criam uma semelhança em gostos, pensamentos e atitudes: Andrey começa a pixar; a gostar das mesmas músicas que Alla; vai à festas e se embebeda; frequenta os mesmos espaços; ou seja, Alla transforma-o em uma versão dela. Andrey, por vezes, tenta fazer o mesmo, mas fica claro quem é o verdadeiro “líder” da relação.

Filmes que abordam romances, facilmente cometem erros de desenvolvimento, pois, focando nos personagens enquanto casal, se esquecem do desenvolvimento deles enquanto personagens individuais. Em sugar baby, isso acontece de maneira oposta, o percorrer próprio de cada personagem é melhor trabalhado do que o desenvolvimento deles como casal.

Ultimamente, discute-se sobre a “necessidade” de cenas de sexo em filmes, se isso é algo que não te incomoda, aproveitará muito mais o longa. Sugar Baby é repleto de cenas sexuais, aborda a sensualidade de forma exagerada, mas não necessariamente no sentido negativo atribuído à palavra, em diversas situações o exagero é proposital e interessante. Esse exagero sexual é usufruído em todos os âmbitos, principalmente nas posições da câmera que cria planos que beira ao explícito, e na atuação passível de elogios que caminha desde dedos se contraindo até tremores e feições intensas. 

 Por vezes, a mise-en-scéne é interrompida, e até mesmo agraciada com uma intervenção de cenas desconexas da realidade, vindas do imaginário da protagonista, são poucos os momentos em que isso acontece, porém, todos muito memoráveis, porque dá um ar cômico e fantasioso inesperado ao filme, e certamente é algo que deveria ser melhor aproveitado e utilizado com maior frequência durante a obra.

Algo que destaca o filme dos demais que abordam um relacionamento sugar, é que, no seu decorrer, percebemos que a verdadeira figura dominante é a feminina: Andrey é mais dependente de Alla do que vice-versa; ele arrisca sua relação com sua esposa e filhos; deixa sua empresa em segundo plano; seu maior investimento se torna Alla. Ele já não paga apenas por prazer sexual, paga por apego emocional, por adrenalina, para voltar a ser jovem. Para ele, Alla é uma aposta alta, é todo seu futuro, é a razão de seu declínio, ainda que isso não seja a intenção dela. Em contrapartida, para Alla, Andrey é um amor intenso de sua juventude, apenas uma possibilidade, pois ela ainda tem o privilégio da juvenilidade que a permite errar e recomeçar dezenas de vezes mais. 

Sugar Baby, portanto, deixa como mensagem, que nenhuma quantia de dinheiro, e nem os mais intensos dos amores podem contra as dádivas e as calamidades da juventude. Dessa forma, após Andrey compreender isso, a obra termina muito distinta de seu início, ele volta aos lugares importantes dos quais Alla o apresentou, utiliza as cores favoritas deles e faz grafites esperançosos que transformam os muros da cidade em cartas de amor.

Este texto foi escrito em parceria com o canal de streaming Adrenalina Pura, conhecido por sua curadoria de filmes de ação, catástrofe, terror e suspense. Até o Limite é um dos lançamentos de setembro no canal. Entre títulos originais e grandes produções protagonizadas por astros de Hollywood, o Adrenalina Pura tem um catálogo vasto, que conta com quase 400 produções. O canal de streaming está disponível na Prime Video Channels, Apple TV e Claro TV+.

 

Ir para o conteúdo