Crítica escrita por Mateus José.

Sinopse: Em Ligação Sombria, Nicolas Cage e Joel Kinnaman protagonizam uma noite de terror psicológico e ação. O filme acompanha Dave (Kinnaman), que se vê forçado a levar um passageiro misterioso (Cage) sob a mira de uma arma. Isolado em seu carro, ele deve dirigir e seguir à risca as regras impostas pelo passageiro violento. Ao longo da noite, acontecimentos inesperados revelam que nem tudo é o que parece.

Imagine estar a caminho do hospital para testemunhar o nascimento de sua filha e, ao olhar pelo retrovisor, perceber que o “diabo” está sentado no banco de trás, apontando uma arma para você, com olhos sedentos de sangue. Esse é o cenário de Ligação Sombria (2023). À primeira vista, o filme pode parecer apenas mais um thriller genérico, mas, assim como seu enredo, nem tudo é o que parece.

Sob a direção de Yuval Adler, conhecido por Os Segredos que Guardamos (2020) e vencedor do prêmio Ophir de Melhor Diretor e Roteiro por Beit Lechem (2013), o filme se desenrola, em grande parte, dentro de um carro, durante uma pacata noite em Las Vegas. O roteiro de Luke Paradise, em sua estreia, introduz o espectador à vida de Dave através de um diálogo inicial com seu filho. Descobrimos que a esposa de Dave sofreu um aborto num parto em que ele não pôde estar presente. Agora ela está prestes a dar à luz novamente, e Dave se dirige ao hospital após deixar o filho na casa de outra pessoa. Essa introdução é muito eficiente, pois estabelece rapidamente um contexto emocional e um senso de urgência.

Adler cria tensão de forma rápida e eficaz. Pouco depois de chegar ao hospital, Dave é surpreendido por um estranho que entra em seu carro e o obriga a dirigir, complicando ainda mais sua corrida contra o tempo para estar ao lado da esposa. O misterioso passageiro, interpretado por Cage,  a princípio não revela suas verdadeiras intenções, mas posteriormente alega que Dave, na verdade, se chama James e que ambos têm contas a acertar, sem, contudo, explicar que contas são essas. Essa escolha narrativa provoca incertezas que prendem o espectador à história. A direção de Adler evoca a atmosfera de filmes como Locke (2013) e Good Time (2017), tanto pela constante presença do carro como elemento central quanto pela jornada de um homem que atravessa a noite na cidade para acompanhar o parto de sua filha, enquanto lida com problemas inesperados no caminho.

Nicolas Cage, amplamente reconhecido por suas atuações marcantes, é elevado ao seu máximo em Ligação Sombria. A direção de Adler e o roteiro de Paradise criam situações que potencializam as habilidades do ator, com a câmera frequentemente focada em seu rosto, dando-lhe uma presença quase onipresente. Frases como “O diabo pode começar a invejar aqueles que sofrem profundamente e jogá-los no céu” reforçam o tom enigmático e sádico de seu personagem. Um momento de destaque na atuação de Cage ocorre durante uma blitz, onde seu personagem confronta um policial, resultando em um desfecho violento. Essa cena ressalta a tensão criada pelos contrastes entre Dave, que tenta manter a calma, e o sequestrador, impaciente e prestes a explodir a qualquer momento.

Nos aspectos técnicos, a direção de arte e a maquiagem se destacam na caracterização de Cage, com seu terno e cabelo vermelhos, que o transformam em um verdadeiro “dealer do inferno”. A paleta de cores, predominantemente em tons de vermelho (perigo) e roxo (morte), colabora na construção da tensão e da iminência da violência.

O clímax do filme acontece em uma lanchonete, onde o sequestrador provoca uma matança generalizada e tortura Dave para que ele admita ser James. É uma sequência impactante, na qual Cage utiliza toda a sua versatilidade. No entanto, o filme começa a perder força a partir do momento em que as intenções do sequestrador são reveladas. Com essa revelação, o personagem de Cage, que, até então, sustentava grande parte da narrativa, também perde protagonismo. O desfecho se estende de forma desnecessária, diluindo a tensão construída até ali e resultando em um encerramento que pouco agrega à história.

Em suma, Ligação Sombria é um bom filme, que atende às expectativas sem superá-las nem decepcioná-las. Contudo, é inegável que o maior mérito do longa reside na atuação estilizada e criativa de Nicolas Cage. É essa performance que tira o filme do lugar-comum dos thrillers policiais genéricos e mantém o espectador interessado até o final do segundo ato. Quando Cage perde o holofote, o filme também perde seu brilho.

 

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