Crítica escrita por João Pedro Ferreira.
Sinopse: Além de felicidade, um baú também pode guardar muitos segredos. Baseado em fatos, Silvio Santos (Rodrigo Faro) relembra sua história de vida e revela acontecimentos dos bastidores que nunca foram mostrados. Durante o sequestro que marcou o Brasil, o apresentador precisa lutar para proteger sua família e seu legado enquanto encara de frente um dos momentos mais desafiadores da sua vida.
Silvio (2024) tem como trama central o sequestro ocorrido em 2001, quando o apresentador Silvio Santos foi rendido em sua mansão, no Morumbi, permanecendo como refém por cerca de sete horas. Trata-se da segunda biografia do empresário responsável por uma das maiores redes de televisão do país, sendo a primeira a série O Rei da TV. Na primeira temporada da série, o foco narrativo era o episódio de 1988, quando Silvio perdeu a voz. Paralelamente, a produção apresentava flashbacks de sua juventude até se tornar proprietário da emissora SBT. A segunda temporada, por sua vez, aborda sua candidatura à presidência do Brasil, além do sequestro de sua filha e do próprio incidente em que foi mantido como refém, como retratado no filme. Embora a trama do longa tenha o sequestro como eixo central, a trajetória de Silvio também é explorada através de diálogos com o criminoso. No entanto, as lembranças de sua juventude são apresentadas de forma superficial e apressada, sem aprofundar momentos importantes, como o episódio do Baú da Felicidade. Considerando que o filme tem apenas 110 minutos de duração, não seria possível retratar todos esses eventos com a mesma riqueza de detalhes exibida na série.
O filme tenta inserir humor em momentos inadequados. Embora algumas cenas sejam engraçadas, chega a ser constrangedor ver piadas sendo introduzidas em uma situação de vida ou morte, como é o caso da cena em que o apresentador liga pedindo ajuda e a pessoa do outro lado não leva a sério que é o próprio Silvio Santos pedindo socorro — essa cena é, inclusive, mostrada no trailer. Isso quebra completamente o clima de tensão que a obra tenta construir em torno do sequestro, um evento que chocou o país na época.
Quando Rodrigo Faro foi escolhido para interpretar Silvio Santos, inicialmente não consegui levar a decisão a sério, chegando a pensar que fosse uma piada da internet. A escolha, inclusive, gerou certa polêmica nas redes sociais. Além de Faro não ter uma semelhança física com o apresentador, sua atuação não convence, falhando em transmitir a essência de uma das personalidades mais imitadas do país. A tentativa de reproduzir a voz de Silvio Santos resulta em uma imitação forçada e pouco natural. Mesmo nas cenas em que Silvio é mantido refém, Faro não consegue expressar o desespero esperado, mantendo uma expressão e entonação excessivamente calmas, diferentemente da série O Rei da TV, onde José Rubens Chachá, além de possuir uma aparência mais próxima à do apresentador, consegue reproduzir fielmente seus trejeitos e um tom de voz idêntico ao de Silvio.
Silvio (2024) é a segunda biografia do apresentador no audiovisual e, embora tenha como trama central o seu sequestro, falha em aprofundar sua trajetória e se perde em piadas fora de contexto, prejudicando a tensão da situação. Rodrigo Faro não foi a melhor escolha para o papel, mas não acho que o filme seja uma bomba que eu estava esperando que seria. Porém, acaba resultando em uma obra que deixa a desejar.