Crítica por Renata Serra.

Sinopse: Sob o céu em chamas numa beira de estrada do litoral cearense, o Motel Destino é palco de jogos perigosos de desejo, poder e violência. Uma noite, a chegada do jovem Heraldo transforma em definitivo o cotidiano do local.

Motel Destino, novo filme do diretor cearense Karim Aïnouz, é uma viagem sensual e uma interessante construção de thriller erótico para dentro das terras do Ceará. O longa apresenta uma narrativa intrigante que se passa em um ambiente claustrofóbico um motel isolado no meio da estrada e acompanha Heraldo (Iago Xavier), um jovem envolvido com crimes no interior, e os eventos que o levam a começar a trabalhar em tal motel como forma de abrigo e esconderijo, acudido pelo casal dono do local, Dayana (Nataly Rocha) e Elias (Fábio Assunção).

O roteiro desenvolve as nuances da vulnerabilidade dos personagens, fadados a um estado de excitação apesar da sensação de prisão oferecida pelas paredes coloridas e corredores apertados do motel. O espaço sujo se torna casa de desejo e sensualidade para aqueles fora dos quartos, e o triângulo amoroso que se constrói no Motel Destino aprisiona a personagem de Dayana em sua principal ponta. Confinada no relacionamento com Elias, a mulher encontra, na figura trágica de Heraldo, a sua própria válvula de escape. Atormentado por visões do passado, o personagem de Iago Xavier também não foge de uma tensão com Elias, seja ela violenta ou sexual. “Parece que vai ser esquartejada”, diz Dayana sobre os gritos de prazer de uma mulher. No fim, prazer e dor se encontram.

O filme coloca em xeque a perspectiva voyeur do cinema: com toques de Antonioni e De Palma, planos são gravados da tela de uma câmera de segurança, os personagens deliberadamente observam clientes do motel sob as grades de uma pequena janela e, para além dos olhos, o som das relações sexuais incessantes que se dão no motel está sempre presente, incômodo. O ato final de observação dos personagens é, essencialmente, sua libertação: Heraldo consegue escapar da cidade, Dayana consegue escapar do marido e Elias escapa de si próprio.

Com luzes neon, a fotografia do longa consegue criar uma atmosfera palpável e captar a sensação de calor das terras cearenses, além de expor o desejo dos personagens em tela continuamente. Aïnouz investe em construir um universo chamativo, uma proposta cinematográfica que seduz não só o protagonista, mas também o telespectador que o acompanha. O filme consegue criar uma sensação constante de tensão e desconforto, em contraste com a sexualidade iminente do ambiente, utilizando, de forma eficaz, a ambientação do motel para amplificar a sensação de isolamento. A cinematografia é habilidosa, com planos que destacam a decadência do lugar assimilada à vulnerabilidade e ao desejo dos personagens.

As atuações ajudam a dar força à cinematografia charmosa de Motel Destino. Fábio Assunção, intérprete de um personagem vil, mas bem construído, é a chama que mantém o filme aceso. Sua transformação em Elias é crível e cativante, o sadismo do personagem rapidamente vira mero detalhe frente às camadas que o ator explora em tela. Nataly Rocha também é capaz de se metamorfosear aos olhos do telespectador, tal qual sua personagem Dayana aos olhos do marido, do amante e dos clientes. As performances do veterano Assunção e da ótima Rocha acabam por ofuscar o protagonista, o iniciante Iago Xavier, mas não é fator de incômodo entre o decorrer do longa. 

O roteiro e, principalmente, o final do filme acabam sendo seu elo mais fraco, formatado em um clichê de narrativa que não anima e que acaba por destruir seus próprios personagens. O fim, por mais bonitas que sejam as imagens, é acelerado e tira o gosto de satisfação que o restante do filme oferecera. Suas reviravoltas são previsíveis, mas isso não tira mérito da construção interessante que Aïnouz desenvolve.

Motel Destino é um filme que se destaca pela atmosfera claustrofóbica ao mesmo tempo que sedutora. É um filme satisfatoriamente brasileiro e, principalmente, cearense. Por fim, a apresentação de um destino de personagens fundados no medo e no desejo poderia apenas se dar num motel com tal nome.

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