Crítica escrita por João Pedro Ferreira.

Sinopse: Enquanto grava um filme de terror, um ator passa a ter um comportamento estranho e agressivo. Despertando preocupações, sua filha busca entender o que está por trás dessas mudanças.

Antes de tudo, é cômico ter que esclarecer que este filme não é uma continuação de O Exorcista do Papa (2023), que narra a história do Padre Gabriele Amorth, um exorcista do Vaticano que combate Satanás e demônios possuidores de corpos inocentes. A confusão surge pelo fato de Russell Crowe ser o protagonista em ambos os filmes e devido aos cartazes semelhantes. No entanto, aqui, ele interpreta Anthony, um ator que encarna um padre, no filme “O Exorcista”, e que acaba sendo possuído durante as filmagens. O Exorcista (1973) permanece sendo uma das maiores referências no gênero de terror. A sua influência é tamanha que diversos filmes subsequentes utilizam o título “Exorcista” na tentativa de atrair o público, como é o caso de O Exorcismo do Papa e o mais recente O Exorcista: O Devoto (2023). Este último, em particular, é um remake do clássico de 1973. Ao observar a repetição do tema e o uso dessa palavra no título, podemos questionar a originalidade e a intenção por trás dessas produções. Filmes com essa temática parecem seguir uma fórmula estabelecida, apostando em títulos chamativos para atrair espectadores, ao invés de inovar dentro do gênero. Contar com um ator de renome não é suficiente para garantir qualidade ou originalidade na narrativa.

A cena do prólogo já revela ao espectador que o set de filmagem onde está sendo gravado o filme “O Exorcista” é assombrado: um ator, enquanto decora suas falas e reconhece o ambiente, é morto por um espírito demoníaco. Diversos rumores circulam sobre incidentes perturbadores nos bastidores de filmes de terror, como no próprio O Exorcista, onde um misterioso incêndio atingiu o set durante as gravações, poupando curiosamente apenas o quarto da personagem interpretada por Linda Blair. Embora, inicialmente, pareça que o filme seguirá essa premissa, a narrativa toma outro rumo, focando na relação entre pai e filha. Anthony, um ator com um passado problemático envolvendo drogas, está agora determinado a manter a sobriedade. No entanto, durante as gravações, ele é possuído, e seus colegas de set suspeitam que ele tenha recaído no uso de drogas, ou algo semelhante. O filme utiliza a possessão de Anthony como um mecanismo para explorar a tentativa de reconciliação com sua filha, com quem ele mantém um relacionamento difícil. Essa abordagem, embora adicione uma camada extra de drama emocional e conflito familiar, é um clichê recorrente no subgênero dos filmes de exorcismo, onde questões familiares frequentemente são exploradas. A história de redenção de Anthony e a complexidade do relacionamento com sua filha são moldadas por um histórico de problemas pessoais. Além disso, a batalha final entre o bem e o mal é tipicamente tumultuada, com muita gritaria, efeitos visuais intensos e uma atmosfera de caos. Portanto, a relação entre pai e filha é central tanto para a narrativa do exorcismo quanto para a resolução emocional da trama.

O filme emprega numerosos jumpscares, que são sustos repentinos, técnica tradicional do cinema de terror. Embora frequentemente utilizados em filmes desse gênero, são frequentemente considerados gratuitos nos longas de terror contemporâneos, devido ao fato de poderem ser um recurso fácil e preguiçoso, especialmente quando usados em excesso. Essa abordagem pode tornar-se previsível e perder seu impacto. Um exemplo é a queda repentina de uma softbox do estúdio de gravação. Embora seja compreensível mostrar que o local está assombrado, essa técnica de susto é utilizada apenas como uma desculpa para provocar uma reação imediata do público.

O Exorcismo é mais um filme de terror que utiliza o título de um clássico do gênero para atrair um público maior. Com jumpscares gratuitos e pouco eficazes, nem mesmo a presença de um ator renomado no elenco foi capaz de sustentar a qualidade do longa — que é mais um exemplo qualquer na longa lista de filmes sobre exorcismo.

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