Crítica escrita por João Pedro Ferreira.

Sinopse: “Como o final feliz de um filme perfeito”. É assim que João descreve o fim de seu relacionamento de 10 anos com Hugo. Apesar da separação, eles permanecem amigos bem próximos. No entanto, voltar ao universo dos encontros românticos, usando aplicativos, traz um turbilhão de emoções, mostrando que a realidade não pode ser controlada como um roteiro de filme.

O novo filme de Daniel Ribeiro, o mesmo responsável por dirigir Hoje eu Quero Voltar Sozinho, também responsável pelos curtas-metragens Não Quero Voltar Sozinho e Café com Leite, apresenta uma comédia romântica com temática LGBT. Além de explorar a vida amorosa de João, a trama mostra que o protagonista está preso no roteiro do próprio filme que está escrevendo e dirigindo. Precisando pagar o aluguel, o garoto descobre uma outra forma de ganhar dinheiro: gravando vídeos de conteúdo adulto, aproveitando suas habilidades de edição. Isso lhe permite pagar o aluguel. Em contraste com o filme anterior do diretor, no qual o protagonista enfrenta desafios devido à sua deficiência visual, aqui o personagem central confronta o término de um relacionamento de uma década com seu ex-parceiro. Além disso, ambos os filmes, apesar de diferir em suas narrativas, compartilham o tema do amadurecimento. 

O personagem principal se vê em uma trama de uma série de televisão, e ele mesmo brinca com isso ao mencionar que sua vida se parece com um seriado, o que explora o tema do escapismo. Esse é um fenômeno de fuga mental dos aspectos desagradáveis ou tediosos do cotidiano, geralmente por meio de atividades que envolvem a imaginação ou o entretenimento e pode ser usado como uma forma de distração e afastamento de sentimentos de depressão ou tristeza. Entretanto, ao longo do filme, João logo percebe que a realidade não pode ser moldada como um roteiro de cinema e que os desafios do amor verdadeiro superam qualquer história com finais felizes. Possuindo essa mania de achar que está numa obra audiovisual, ele até mesmo faz uma leve quebra da quarta parede: após o primeiro encontro com Victor, ele dá o primeiro beijo e, em seguida, diz que foi para não decepcionar o público. Evidentemente, nesse contexto, ele fez a afirmação em tom de brincadeira, sem estabelecer contato visual com a câmera ou interagir com o público. Isso contrasta com obras como Curtindo a Vida Adoidado, onde o protagonista tem consciência de estar em um longa-metragem e se comunica diretamente com os espectadores. Não que isso constitua um defeito, mas considero interessante a maneira como essa característica foi apresentada, digamos, de forma indireta. 

Há um objeto recorrente no filme, o cubo mágico, um presente dado por seu ex-namorado. Para João, esse brinquedo se torna um passatempo, mas, ao mesmo tempo, enquanto tenta montar o quebra-cabeça tridimensional, o filme faz disso uma metáfora da tentativa do protagonista de organizar sua própria vida. A maior parte do tempo, ele não consegue terminar de decifrar o quebra-cabeça e, em paralelo a isso, ele luta para conseguir uma oportunidade de lançar seu filme e procurar pelo amor da sua vida, mesmo após o término de um relacionamento de uma década.

Aliás, o filme possui alguns elementos autobiográficos. Daniel Ribeiro, além de dirigir o longa, também escreveu a história, inspirando-se no fim de seu relacionamento com o também diretor Rafael Gomes, responsável por dirigir 45 Dias Sem Você. Mas o filme deixa claro que é baseado em eventos reais que ocorreram na vida do diretor. 

13 Sentimentos é um filme encantador que explora o escapismo e seus potenciais efeitos prejudiciais quando em excesso. Mesmo não vivendo em um conto de fadas, a vida nos mostra que o amor existe. A narrativa aborda o amadurecimento e oferece reflexões profundas sobre a vida adulta. Uma excelente escolha para assistir no cinema.

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