Crítica escrita por Giovana Lopes.

Sinopse: O longa-metragem Garra de Ferro conta a história real e trágica da dinastia de luta livre Von Erich. Os inseparáveis irmãos Von Erich, fizeram história no mundo intensamente competitivo do wrestling profissional no início dos anos 1980. Através da tragédia e do triunfo, os irmãos procuram a imortalidade neste grande palco do esporte.

Existe uma linha tênue entre um sonho próprio e o que foi sonhado em seu lugar. Em Garra de Ferro, longa de Sean Durkin, é retratada uma história real que vai muito além de luta livre e das relações familiares, mostrando como a busca excessiva pela realização de algo afeta aqueles em sua volta. Com uma atuação impecável, montagem sensível e trilha sonora impactante, o público é transportado para o início da década de 80 em uma trajetória devastadora, que o leva a refletir sobre a masculinidade tóxica e a autonomia de uma conquista.

Apesar de toda a trama estar inserida no espaço da luta livre, não é necessário entendê-lo para compreender as nuances do filme. A dualidade desse esporte, que trabalha com o real e o artificial, traz a dramaticidade ideal e é muito bem explorada cinematograficamente. O trabalho da montagem constrói uma atmosfera que transita entre realidade e ficção, assim como a luta, nas cenas das partidas e nas cenas mais sensíveis. O uso de zoom in e zoom out também é muito bem utilizado, intensificando as emoções dos personagens e a tensão dos momentos.

A narrativa, por sua vez, ultrapassa o esporte da trama ao expor a trágica história dos irmãos Von Erich, contada de maneira que aqueles que a desconhecem sintam-se abismados com tamanhas tragédias. Apesar da ideia de que o sobrenome seja o detentor de toda a má sorte da família, o espectador é apresentado a um ambiente familiar tóxico, no qual o pai Fritz Von Erich, vivido por Holt McCallany, é o principal causador de toda a pressão e dificuldades que os irmãos vivenciam, sendo isso, assim, a própria maldição da família. O sonho de um título inalcançável é passado para os filhos de forma forçada e o espectador termina questionando se eles realmente queriam tanto alcançar esse objetivo ou se era apenas reflexo de uma expectativa parental. A consequência desse esforço exagerado é o distanciamento entre o progenitor e seus descendentes e da própria esposa, também vítima do abuso e da frustração do marido.

O elenco e a direção de arte também são aspectos essenciais para a atmosfera do longa. Com destaque para Zac Efron, que faz o papel de Kevin Von Erich. O ator traz, em seu personagem, todo o peso de um irmão mais velho, fruto de uma criação tóxica, que é forçado a ir atrás do que seu pai deseja, mas também a desistir desse sonho por causa dele. O público acompanha a crescente sensação de impotência do personagem ao ver seus irmãos se perdendo devido a falas e atitudes paternas que também o afetam, ao mesmo tempo em que se mantém forte pela família. Efron expõe tudo de forma sensível, no que facilmente pode ser chamado do papel de sua carreira, até agora. Além disso, a caracterização e a cenografia dialogam com o espaço-tempo do enredo e com o papel desses personagens na estrutura familiar. A repetição da roupa da mãe nos funerais e dos trajes dos Von Erich nas lutas retratam como o patriarca deseja que todos desempenhem um papel nessa família, sempre decidido por ele. Os trejeitos, ações e vestimentas são ditados por Fritz, o que é refletido em todos os personagens do longa.

Garra de Ferro é uma história que faz o espectador refletir sobre até que ponto o desejo é pessoal e o quanto isso pode afetar uma pessoa, a partir do momento em que começa a ser dos outros. Mostra como as relações familiares podem ser complicadas e incríveis ao mesmo tempo, pois os irmãos não chegariam no lugar que chegaram sem uns aos outros. Mas, acima de tudo, traz questionamentos sobre uma masculinidade tóxica em um ambiente em que não se tem o costume disso ser questionado, no qual o golpe da garra de ferro afeta não só os adversários no ringue de luta, como também em sua própria casa.

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