Crítica feita por Sophia de Lacerda, estudante de Cinema e Audiovisual da UFF, durante a cobertura do )CA-UFF da 27ª Mostra de Tiradentes. 


Sinopse:
Um mergulho na vida do dramaturgo Edson Aquino, cuja trajetória é registrada por uma equipe de documentaristas estrangeiros. Enquanto comemora seus 35 anos de carreira perante as câmeras, sua aparente fachada de sucesso é abalada, fazendo-o questionar sobre a ilusão da fama e colocando em xeque sua busca pela autenticidade.

O longa “Maçãs no Escuro”, dirigido por Tiago A. Neves, fala de um lugar muito pessoal e íntimo do artista. Não apenas do personagem Edson Aquino como tal, mas de quem trabalha com arte no geral. Inclusive, é difícil não se comover com o que o filme comunica.

A direção opta por um formato híbrido entre ficção e documentário, gerando uma ambiguidade que faz o espectador se perguntar até que ponto as situações apresentadas são reais ou encenadas. O filme segue em uma estética muito realista de um documentário amador que está em processo de gravação: a câmera na mão, o som que às vezes estoura, os personagens transitando por Diadema com muita naturalidade. Por exemplo, existem cenas com personagens  responsáveis pelos registros audiovisuais, testando microfones, mexendo na iluminação e nas configurações da câmera, o que faz com que toda a experiência da feitura do filme seja muito viva para o público. Ao mesmo tempo, somos introduzidos a momentos bizarros e de tom sarcástico, como quando Edson xinga os espectadores  na plateia que criticaram seu espetáculo. Todos os personagens são muito bem humorados e autênticos, o roteiro vai construindo diálogos engraçados que fazem você se sentir em uma conversa de bar com seus outros amigos artistas: rindo de si mesmo, das suas angústias e frustrações. “Maçãs no Escuro” conquista sua empatia aproximando-se daquelas pessoas, do Grupo Arruaça de Teatro, de Diadema.

Durante toda essa construção fílmica, uma dúvida permanece, em quais momentos Edson está atuando? Após o fim do filme, ela continua sem resposta, o que na verdade é ótimo. Afinal, passar para o público uma verdade é uma das virtudes de um bom ator. Para ele, é tudo real. Edson chega a comentar que encena sua própria existência, que não sobreviveria sendo Edson Cardoso. Para além da fabulação, e de um personagem que tira risadas do público sem muito esforço, o roteiro também capta uma introspecção mais sóbria de Edson, que compartilha memórias afetivas com o teatro e, ao mesmo tempo, se questiona o porquê de insistir nele. Além disso, o personagem também expressa desprezo pela arte massificada, sem alma. É um enredo que vai na contramão da figura industrial do fazer artístico.

“Maçãs no Escuro” é uma experiência que mostra a realidade de ser artista informal no Brasil de forma divertida, brincando entre os ritmos do teatro e do cinema, e ao mesmo tempo retratando as dores e frustrações dessa carreira no último ato, convidando a uma reflexão, mas sem deixar de encontrar um meio termo com a ternura, entregando uma belíssima ode a esse grupo de teatro e uma mensagem a favor da linguagem artística. O público sai do cinema com o lembrete de que a arte salva.

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