Crítica realizada por Maiara Carvalho como trabalho final da disciplina História do Cinema, ministrada por Gledson Mercês, na Faculdade Casa das Artes de Laranjeiras – CAL


Corra! é um filme de suspense e terror psicológico do norte-americano Jordan Peele, tratando-se do primeiro longa-metragem que ele dirigiu.

Estrelado por Daniel Kaluuya e Allison Williams, o filme conta a história de um jovem apaixonado que viaja para conhecer a família de sua namorada branca. A medida que eventos estranhos se desenrolam, Chris descobre perturbadores segredos sobre a comunidade aparentemente hospitaleira. O filme aborda questões sociais e raciais de uma maneira única, combinando horror e sátira social. A tensão crescente e as reviravoltas inesperadas contribuem para a intensidade do filme, que foi aclamado pela crítica por sua originalidade e abordagem inovadora.

O filme alcançou grande sucesso internacional após seu lançamento em 2017, tornando-se um dos filmes mais assistidos dos últimos anos.

“Corra!” incorpora elementos de sátira social e horror, usando o gênero do terror para explorar questões sociais profundas, como o racismo. Essa abordagem pode ser vista como uma forma de comentário social, similar a como o realismo muitas vezes reflete a sociedade em sua obra.

Escolhi rever e analisar este filme por compreender que a temática abordada é um problema secular no Brasil, EUA, e no mundo, e poucas vezes foi tão bem elaborada em uma obra cinematográfica Hollywoodiana. Se trata de uma obra que aborda questões de apropriação cultural e racismo velado e ao mesmo tempo revela o quanto estamos atentos, mesmo estando “desarmados”. 

Run Rabbit Run – Corra, Coelho, Corra!

“Corra!” tem diversos elementos simbólicos que contribuem para a atmosfera e narrativa. A música, composta por Michael Abels, combina elementos tradicionais afro-americanos com elementos contemporâneos, refletindo a dualidade presente no enredo do filme. Ela intensifica a experiência do espectador, acentuando o suspense e reforçando os temas de tensão racial abordados.

“Corra!” aborda questões relacionadas ao preconceito racial nos Estados Unidos, especificamente a experiência negra na sociedade americana. Embora o filme seja profundamente enraizado na realidade americana, suas mensagens sobre racismo e a exploração de pessoas negras podem ressoar com audiências em diferentes contextos, incluindo o brasileiro.

Vale ressaltar no contexto brasileiro, a ideia de “democracia racial”, que sugere a suposta harmonia e integração entre diferentes grupos étnicos, especialmente entre brancos e negros. Essa concepção foi promovida como uma característica marcante da identidade nacional, destacando uma convivência pacífica, apesar das profundas desigualdades raciais existentes. 

No filme “Corra!”, há uma conexão com esses temas, pois ele aborda questões de apropriação cultural e exploração da identidade negra. A narrativa sugere que, por trás de uma fachada de aceitação, existem elementos perturbadores de controle e opressão. Isso pode ser relacionado à crítica de que a “democracia racial” no Brasil pode ser uma máscara para as realidades mais complexas do racismo estrutural e da desigualdade.

Quanto à eugenia, a prática de melhorar a qualidade genética da população, muitas vezes por meio de manipulação seletiva, tem conexões históricas com teoriasracistas. No filme, a eugenia está relacionada a aspectos de dominação e controle sobre a comunidade negra. No contexto brasileiro, a discussão sobre eugenia historicamente esteve associada a ideias discriminatórias e prejudiciais, que reforçam a ideia de branqueamento da população, enfatizando a importância de questionar tais concepções no filme e na sociedade em geral.

Retrato crítico

Corra! é um retrato crítico dos Estados Unidos da América que sublinha suas desigualdades sociopolíticas.

Jordan Peele utiliza um filme de terror para expressar o medo e os inúmeros perigos a que um cidadão afro-americano está sujeito quando vive em um país no qual a sua vida continua sendo desvalorizada. Onde o racismo, discriminação e segregação racial, que fizeram parte de sua história, continuam sendo vivenciados diariamente. Vemos a hipocrisia de uma sociedade que finge ser progressista, mas apenas esconde o preconceito, ao mesmo tempo que perpetua a opressão.

Concluindo, o filme de maneira provocativa, desafia as noções superficiais de harmonia social, destacando como o racismo pode persistir de maneiras inesperadas. A mensagem final ressalta a importância de confrontar a realidade, questionar as aparências e enfrentar as questões profundas de preconceito que permeiam a sociedade. A conclusão nos deixa com uma reflexão intensa sobre as complexidades das relações raciais e as camadas ocultas de discriminação.

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