Em todos os cantos do país, diversos cineastas indígenas vêm produzindo filmes por meio de um olhar próprio que emana a partir de suas vivências e experiências. São produções audiovisuais que vêm ganhando cada vez mais força não só no Brasil, mas fora também. É um processo fundamental de demarcação de telas, pois a partir da comunicação audiovisual os povos indígenas ocupam espaços como forma de autodeterminação para contar suas próprias histórias por meio das imagens e sons.
Por isso, considerando as relações históricas e sociopolíticas que atravessam a região Norte do país ao longo de décadas pelos mais diversos apagamentos e preconceitos, o OCA lista aqui 10 cineastas indígenas da região Norte do Brasil que vêm trazendo novos olhares por meio do audiovisual. Confira!
Morzaniel Ɨramari Yanomami
Nascido na aldeia Demini, do povo Yanomami, em Roraima, Morzaniel é cinegrafista e documentarista. Trabalhou como comunicador na Hutukara Associação, em Boa Vista, e formou-se na área em 2010 por meio do projeto Pontos de Cultura Indígena. No mesmo ano, produziu e lançou o filme Xapiripë Yanopë – Casa dos Espíritos, que venceu o prêmio de Melhor Filme Júri Popular na I Bienal de Cinema Indígena – Aldeia SP. Em 2014, lançou o filme Urihi Haromatipë – Curadores da Terra-Floresta, que venceu como Melhor Filme na mostra competitiva do Forumdoc.BH 2014.

Lilly Baniwa
Atriz, performer, cineasta e artista-pesquisadora do povo Baniwa, no Amazonas. Lilly cursa graduação em Artes Cênicas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e nos últimos anos vem atuando entre as carreiras de atriz e diretora de cinema. Como atriz, destaca-se pelo filme WHAA – Nós, entre ela e eu e o espetáculo Antes do tempo existir. Como diretora, trabalhou no vídeo-performance Lithipokoroda e no projeto Oficina Performatividades Identitárias, ambos contemplados pela Lei Aldir Blanc/Amazonas e desenvolvidos no município de São Gabriel da Cachoeira.

Bepkadjoiti Kayapó
O cineasta vive na aldeia A’ukre, do povo Kayapó, e trabalha com cinema desde 2014, quando participou de oficinas de formação audiovisual. Membro do Coletivo Beture Cineastas Mebêngôkre, o realizador documenta o cotidiano do seu povo com filmes que já circularam no Brasil e no exterior, como Memybijok – A Festa dos Homens (2018), que foi exibido em uma mostra de filmes nos Estados Unidos. Além da produção cinematográfica, também se dedica em formar novos cineastas indígenas Kayapó por meio de oficinas de formação audiovisual.

Larissa Ye’padiho Duarte
Cineasta do povo Tukano, Larissa vem da comunidade Taracuá em São Gabriel da Cachoeira (AM), que é conhecida como a “cidade mais indígena do Brasil”, e é estudante de Artes Visuais na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Após duas formações audiovisuais realizadas no seu município, Larissa passou a realizar filmes. Dirigiu o curta-metragem Wehsé Darasé – Trabalho da Roça (2016), um filme falado quase integralmente em tukano. A obra foi participou da II Bienal do Cinema Indígena – Aldeia SP, da Mostra Cinema: Território Ameríndio e do CineKurumin 2017.

Zezinho Yube
José de Lima Kaxinawá, conhecido como Zezinho Yube, é cineasta Huni Kuin da Terra Indígena Praia do Carapanã, aldeia Mibayã, no Acre. Após contatos com o cinema por meio do projeto Vídeo nas Aldeias, Zezinho passou a se dedicar ao documentário para narrar as histórias sobre a origem de seu povo, sua cultura e os cotidianos. Já realizou diversos filmes, dentre eles Xinã Bena, novos tempos (2006), Já me transformei em imagem (2008) e Kene Yuxi, as voltas do kene (2010).

Aida Harika Yanomami
A cineasta vive na aldeia Watorikɨ, região do Demini, na Terra Indígena Yanomami. Após participar de oficinas de formação audiovisual em seu território, Aida passou a realizar filmes e fotografias. A cineasta faz parte do coletivo de comunicadores Yanomami criado em 2018 pela Hutukara Associação Yanomami com apoio do Instituto Socioambiental. Além disso, fez parte da direção do primeiro filme produzido por mulheres Yanomami intitulado Uma Mulher Pensando – Thuë Pihi Kuuwi (2022), que foi exibido na 26ª Mostra de Cinema Tiradentes, e também assina a direção do filme Yuri u xëatima thë – A Pesca com Timbó.

Davi Marworno
Cineasta do povo Galibi-Marworno, do Amapá, atua como cineasta, especificamente no campo do documentário, buscando fortalecer a cultura do seu povo. Além disso, trabalha também com oficinas de grafismos, serigrafias e lambe-lambe. Davi tem focado na formação de novos cineastas indígenas por meio de oficinas sobre noções de filmagem e edição. Produziu o videoclipe Kw Ga’uwasua (2018) e o vídeo Protocolo de Consulta dos Povos Indígenas de Oiapoque (2019), que aborda sobre o direito dos indígenas de serem consultados sobre decisões que podem afetar suas vidas.

Arlete Juruna
Arlete é cineasta do povo Juruna e vive na Aldeia Paquiçamba, na Volta Grande do Xingu no Pará. Começou a atuar no cinema a partir de uma oficina realizada em 2015 pelo Vídeo nas Aldeias no baixo Rio Xingu. Seu trabalho é focado nas transformações de seu povo e na mata Amazônica. Sempre atuando como diretora, fotógrafa e montadora, realizou os filmes A História do Antes (2019), Entre-Ilhas (2021) e Tá no sangue (2022), este último em uma direção conjunta com Wallace Nogueira.

Isaka Huni Kuin
Cineasta do povo Huni Kuin, mora na Terra Indígena Praia do Carapanã, no Acre. Isaka começou a trabalhar com cinema por meio de uma oficina de audiovisual realizada pelo Vídeo nas Aldeias no seu território. Desde então, por meio das imagens e sons vem transmitindo o fortalecimento da cultura de seu povo. Juntamente com Zezinho Yube e Siã Huni Kuin, dirigiu o filme Bimi Shu Ykaya (2018), que vem sendo selecionado em vários festivais de cinema pelo mundo.

Priscila Tapajowara
Indígena da região do Baixo Rio Tapajós (PA), a cineasta é graduada em Produção Audiovisual e trabalha na área desde 2013, atuando também como fotógrafa. Priscila é coordenadora e comunicadora na Mídia Indígena e vice-presidente no Instituto Território das Artes (ITA). Dirigiu a websérie documental Ãgawaraita e o filme Tapajós Ãgawaraitá, além de diversos videoclipes. A cineasta assina a direção de fotografia do filme Arapyau: Primavera Guarani e da série documental Sou Moderno, Sou Índio. Além disso, também atua como capacitadora em formação de jovens indígenas por meio de oficinas audiovisuais.

Os/as cineastas citados aqui são apenas alguns entre vários outros espalhados pelo Brasil que todos os dias fazem os mais diversos registros, seja de cotidianos, rituais ou mobilizações. É uma forma de autorrepresentação por meio das imagens, mas também de desconstuir mais de 500 anos de história contada pelo ponto de vista do colonizador. Por isso, é extremamente importante apoiar a produção audiovisual indígena e contribuir para que tenham visibilidade!