Laís Diel é produtora do curta-metragem “Manhã de Domingo”, único filme brasileiro selecionado nas mostras competitivas do Festival de Berlim 2022 e que ganhou o Urso de Prata. O OCA-UFF fez uma entrevista com Laís antes da premiação – e você pode conferir aqui:. Lá ela falava sobre o processo criativo na produção do filme e suas perspectivas sobre a premiação – além, é claro, de comentar sobre as dificuldades sobre o momento atual do cinema brasileiro.

Agora, na retrospectiva de um ano de OCA-UFF, voltamos a entrevistar Laís para saber sobre os desdobramentos dessa premiação histórica.

1) Durante a nossa primeira entrevista você relatou que não houve um suporte do governo brasileiro na jornada do filme em Berlinale. Houve algum avanço em relação a isso? E após o urso de prata?
Não, não houve suporte do governo brasileiro na jornada para o festival. Todo o processo de distribuição do filme e participação de membros da equipe em outros festivais, nacionais e internacionais, após a premiação em Berlim, foi feito ou com apoio dos próprios festivais ou através de recursos financeiros próprios.

2) Sabemos que existe um apagamento midiático em relação a produção audiovisual brasileira que torna pequenos produtores praticamente invisíveis aos olhos do público. Após o Urso de Prata, você sentiu que isso mudou de alguma forma em relação ao filme?
Curiosamente, antes da premiação e da própria viagem, nós é quem procuramos os veículos de imprensa e mídia, porque, além de acharmos importantíssimo que mais pessoas soubessem que estávamos concorrendo ao Urso de Prata, queríamos apoio para ir pro exterior buscar esse prêmio. Nós fizemos grandes e incessantes frentes para chegar nesses veículos. Alguns não deram bola, outros nos deram três linhas em alguma mídia ou jornal. Fato é que depois da premiação, muitos veículos dos quais nós já tínhamos procurado, retornaram para dar mais atenção ao filme. De toda forma, acho que nem se compara à atenção que longas-metragens, por exemplo, conquistam. A produção curta-metragista é ainda mais invisível. 

3) Você sentiu uma procura ou interesse pelo filme por parte de curadores, exibidores, festivais?
Sim, a participação e premiação na Berlinale ajudou muito na divulgação e circulação do filme. Recebemos muitas solicitações para visionamento e também convites para exibições em festivais e mostras nacionais e internacionais. Sem dúvida alguma é uma chancela importantíssima.

4) Você sente que o filme abriu portas profissionalmente pra você e para outros membros da equipe?
A curto prazo, eu diria que não. É claro que as circunstâncias pessoais e individuais pelas quais fomos atravessados no decorrer do ano interferem nesse cenário. Mas acredito que ainda é muito cedo para dizer que a colheita não foi fértil. Tenho certeza de que essa vitória é e ainda será um grande diferencial para nossa carreira. 

5) A equipe se reuniu para novos trabalhos? Existe alguma nova produção no horizonte?
Parte da equipe compõe a produtora Reduto Filmes, e estivemos focados na distribuição do “Manhã de Domingo” e do curta “Gargaú”, também dirigido pelo Bruno Ribeiro, e cuja fase de distribuição exigiu tempo e atenção. Ninguém imagina, mas o trabalho por trás de circular um filme em festivais é trabalhoso demais, requer dedicação diária não só para dar conta das demandas mais práticas, mas para, sobretudo, desenhar o caminho do filme. A cada nova seleção, as estratégias mudam, o foco vira outro. Passado esse primeiro ano que tende ser mais intenso, vamos voltar a nos dedicar aos próximos passos e planejar novos projetos que desejamos realizar juntos. E aí sim eu acredito que vamos começar a colher os frutos do Urso de Prata.

 

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