Crítica escrita por João Pedro Ferreira.
Sinopse: Uma família se muda para uma nova casa, onde uma presença misteriosa assombra o lugar.
O filme se passa em uma casa assombrada, mas se diferencia ao adotar a perspectiva do próprio fantasma. A câmera, em seu movimento, funciona como o ponto de vista da entidade, o que confere à narrativa uma imersão única. Em vez de apenas observar os eventos de forma convencional, o público é colocado diretamente na perspectiva do fantasma, experimentando a história pelos seus olhos, o que intensifica a sensação de medo e desconforto. Essa abordagem cria uma conexão mais profunda com o ambiente assombrado, tornando o terror mais pessoal e visceral.
A produção se destaca pela utilização de planos sequência, que ocupam uma parte significativa do longa, intercalados com alguns cortes secos para dar um ponto final à cena. Essa abordagem contínua não só intensifica a sensação de apreensão, como também contribui para uma construção de suspense mais orgânica. No entanto, a escolha por esse estilo de filmagem, embora ousada, pode exigir um pouco mais de paciência do espectador, que se vê imerso em um ritmo mais cadenciado e, por vezes, lento.
Na casa que serve de cenário para a trama, um núcleo familiar é retratado com delicadeza, ou seja, suas relações são exploradas de forma sensível e cuidadosa, destacando as complexidades emocionais de seus membros. O filme aborda não apenas o enfraquecimento dessas relações, mas também os momentos efêmeros de conexão, que revelam a fragilidade e a humanidade de cada um. Chris Payne, o pai da família, é um personagem que transmite uma combinação de vulnerabilidade e frustração. Ele luta com todas as suas forças para manter a unidade familiar enquanto o caos ao seu redor ameaça destruir tudo, criando uma tensão emocional que permeia toda a narrativa.
A filha mais nova, Chloe, com cerca de 16 anos, está imersa no luto pela recente perda de sua melhor amiga e envolvida em um relacionamento destrutivo com um colega de escola, tornando-se o centro emocional da história. Seu sofrimento silencioso reverbera na presença da entidade que a observa. Sua trajetória é fundamental para intensificar a atmosfera crescente de tensão, pois, à medida que sua dor se aprofunda, a presença fantasmagórica se torna mais visível e ativa, como se respondesse de forma quase empática à sua angústia. Claro, ela não é a única pessoa com traumas. À medida que conhecemos melhor essa família única, percebemos a extensão das suas próprias feridas, tão profundas que uma simples mudança de casa ou de ambiente não é suficiente para curá-las. Dentro desse espaço – que deveria representar um recomeço – antigas mágoas e frustrações não resolvidas começam a ressurgir, criando raízes profundas que se espalham pelas paredes de cada cômodo, sufocando todos os membros dessa família marcada pela complexidade.
O filme não busca emular sucessos como Atividade Paranormal, evitando recorrer a truques previsíveis como jumpscares. Em vez disso, ele consegue incomodar o público por meio de uma construção cuidadosa e detalhes sutis. Elementos, como objetos que se movem de forma quase imperceptível e reflexos distorcidos, que se descolam da realidade, são usados com maestria para criar uma atmosfera opressiva e inquietante. A ameaça nunca se revela de forma explícita, mas se faz presente de maneira constante, sugerindo que algo sombrio está prestes a emergir. O longa não tem como objetivo chocar, mas, sim, inquietar, fazendo o espectador perceber o peso de sua própria presença enquanto testemunha o sofrimento dos outros, sem ter a capacidade de intervir.
Presença se destaca no gênero de terror ao adotar uma abordagem sutil e atmosférica, fugindo dos clichês e proporcionando uma experiência psicológica imersiva. Narrado pela perspectiva do fantasma, o filme mantém uma tensão constante sem recorrer a sustos fáceis. A dinâmica familiar acrescenta profundidade emocional, explorando temas como luto, perda e fragilidade humana, criando uma narrativa tanto inquietante quanto comovente.