Crítica escrita por Mateus José
Sinopse: Abril de 2020. Os irmãos Paul, um diretor de cinema, e Etienne, um jornalista musical, estão confinados na casa de campo da família, no interior da França, junto com suas parceiras Morgane e Carole. Cada cômodo, cada objeto e até as árvores do jardim lhes trazem as memórias da infância e seus fantasmas. Uma comédia autobiográfica.
De volta ao passado
Uma visita ao passado para ter esperanças no futuro em um presente incerto. Com direção e roteiro de Olivier Assayas, Tempo Suspenso (2025) é ambientado na antiga e isolada casa onde cresceram os irmãos Paul (Vincent Macaigne) e Etienne (Micha Lescot). Ali, eles ficam confinados com suas parceiras, Morgane (Nine d’Urso) e Carole (Nora Hamzawi). A comédia romântica inicia-se com a narração em off de Paul, apresentando o local onde a trama se desenrola e sua conexão com o protagonista. Desde o início, o roteiro evoca uma sensação de nostalgia e atemporalidade, situando-se em um cenário carregado de memórias, onde o tempo passou, mas quase nada mudou.
Nesse contexto, somos introduzidos à rotina dos personagens e logo nos deparamos com um conflito entre os irmãos: de um lado, o consumismo excessivo de Paul; do outro, o descaso de Etienne com os cuidados profiláticos. Olivier Assayas explora as relações interpessoais no confinamento, em um ambiente que remete a tempos mais tranquilos. Para quem vivenciou a pandemia da Covid-19, é fácil se identificar com as situações retratadas no filme. Os interesses conflitantes geram tensões e testam a tolerância dos casais: enquanto Etienne e Carole são mais introspectivos, Paul e Morgane se mostram extravagantes. Essa diferença fica evidente na cena em que Paul e Morgane decidem assistir a um filme e Etienne e Carole pedem que diminuam o volume, pois têm dificuldades para dormir — mesmo após Paul argumentar que o filme assistido por eles na noite anterior era mudo.
Gradualmente, conhecemos os dilemas individuais de cada personagem. Etienne é jornalista musical e apresenta um podcast, mas precisa se adaptar ao trabalho remoto, uma nova realidade para ele. Já Paul, diretor de cinema, busca maneiras de viabilizar seus projetos em meio ao isolamento, além de conciliar sua terapia e a relação com a filha, que mora com sua ex-esposa, Flávia (Maud Wyler). Em meio a tudo isso, os personagens redescobrem a casa que um dia os abrigou e revisitam antigas inspirações.
Infelizmente, os pontos positivos do longa se encerram aqui. O roteiro se torna um extenso monólogo sobre “nada”. Há uma discussão recorrente entre os irmãos sobre como as grandes empresas tratam seus funcionários, especialmente no contexto pandêmico, em que muitos tiveram suas atividades interrompidas. No entanto, essa crítica se revela superficial, pois, no fim, ambos continuam consumindo produtos da Amazon como se nada tivesse sido debatido. Além disso, Paul frequentemente cita diretores, pintores e escritores que o inspiram, mas essas referências se tornam prolixas, repetitivas e excessivamente saudosistas.
Em suma, Tempo Suspenso apresenta belos planos contemplativos, mas peca por uma narrativa travada e quase circular, repleta de diálogos fracos e pouco envolventes. As relações entre os personagens parecem temer a profundidade. No que diz respeito às atuações, Vincent Macaigne entrega um Paul simpático, paranoico e inquieto, enquanto Micha Lescot passa quase despercebido, interpretando um Etienne rabugento e fanfarrão, mas sem grande impacto. Já Nine d’Urso e Nora Hamzawi servem mais como suporte narrativo para os conflitos entre os irmãos. No final, a obra flerta com reflexões interessantes, mas não se compromete em desenvolvê-las, resultando em um filme que se perde na própria inércia.