Crítica escrita por Mateus José.
Sinopse: A Perfect Love Story acompanha a decisão de um casal em abandonar suas vidas na cinzenta cidade de Sarajevo para embarcar numa jornada pelas estradas do Leste Europeu. Ele é um jornalista e fotógrafo francês e ela, uma jovem artista da Bósnia.
A fim de contar uma história autoral, A Perfect Love Story: Where Nothing Goes Wrong Or Does It…? (2024) utiliza de pano de fundo a trama de um casal que não têm seus nomes especificados e é composto por uma mulher de Sarajevo (Enisa Njemčević) e um francês (Victor Bessière) que vivem juntos e aparentam ter um relacionamento harmonioso, em busca de encontrar-se e fugir de sua vida monótona eles viajam pelas estradas do Leste Europeu, todavia essa jornada pode proporcionar muito mais do que apenas aventuras e belezas exóticas e levá-los a perguntar-se se é possível seguirem unidos mesmo vendo a vida de formas tão distintas.
Com um título extenso e um tanto prolixo, A Perfect Love Story: Where Nothing Goes Wrong Or Does It…? marca o longa-metragem de estreia solo da cineasta bósnia-herzegovina Emina Kujundžić. O filme, com cerca de 80 minutos, abre com uma metanarrativa: uma cineasta (Sadžida Tulić) participa de uma reunião com um renomado produtor (Srđan Vuletić), que oferece feedback ao seu roteiro. Ele critica a obra por ser demasiadamente curta, apresentar personagens fracos e estar “excessivamente focada em detalhes femininos”. A cineasta, em casa, compartilha a experiência com seu parceiro (Luka Marjanović), que, de forma inesperada, concorda com as observações do produtor.
Essa introdução é essencial para inserir o público no pensamento crítico da realizadora sobre a misoginia presente na indústria cinematográfica. Ao longo da narrativa, Sadžida — que simboliza a própria diretora Kujundžić — frequentemente “assume” o lugar da jovem artista bósnia que protagoniza o filme dentro do filme, reforçando o caráter profundamente pessoal da obra.
A trama principal segue um fotógrafo francês e uma jovem artista bósnia como protagonistas. Desde o início, o longa entrega informações sobre o cotidiano e as aspirações do casal, mas sem jamais se aprofundar diretamente em suas personalidades. Um dos méritos da direção de Kujundžić está na maneira gradual com que essas informações são reveladas, criando um tom quase de suspense, especialmente nas cenas iniciais. Essa abordagem narrativa confere autenticidade à obra e mantém o espectador em constante estado de atenção.
Um exemplo notável ocorre em uma sequência na qual o casal esconde uma quantia significativa de dinheiro no pneu do carro e é posteriormente abordado por um policial aparentemente desconfiado. A tensão da cena é amplificada pelo fato de, momentos antes, termos ouvido no rádio do carro sobre um grande assalto a banco. O cuidado em construir a cena gera um clima de suspense envolvente.
Nos aspectos técnicos, a montagem merece destaque por se fazer presente de maneira enfática, com cortes rápidos que acompanham os conflitos entre os personagens. A trilha sonora, composta por Sloven Anzulović, complementa a narrativa, alternando entre temas densos e contidos nos momentos de tensão e melodias mais leves e vibrantes nas cenas íntimas e descontraídas.
Em suma, A Perfect Love Story: Where Nothing Goes Wrong Or Does It…? é executado de forma admirável, indo além de um mero romance ao abordar questões críticas por meio da metalinguagem e de sua abordagem narrativa autêntica. No entanto, a inserção excessiva de cenas metalinguísticas, em certos momentos, compromete o ritmo do filme, criando a sensação de “barrigas narrativas”. Essa abordagem tende a privilegiar o discurso em detrimento da ação, resultando em momentos didáticos e expositivos. Ainda assim, tais desvios não ofuscam os méritos do filme, que apresenta um roteiro envolvente, uma narrativa coesa e uma direção intrigante, sem dúvidas Emina Kujundžić é um nome que devemos ficar de olho nos próximos anos.