Crítica escrita por Otávio Leocádio.

Sinopse: Zeca todo dia tenta levantar cedinho pra pegar o ônibus e chegar, uma hora e meia depois, na escola da cidade vizinha, onde trabalha como bibliotecário. Acordar cedo anda cada vez mais difícil, há algo que o impede de manter esse cotidiano. Um dia Zeca conhece Luisa.

Vi O Dia Que Te Conheci (2023) pela primeira vez há um ano atrás, no Festival do Rio de 2023. Me apaixonei de imediato pela obra.

O longa da Filme de Plástico que narra a história de Zeca, um homem solteiro que trabalha na biblioteca de uma escola e enfrenta dificuldades para acordar. Em um dia em que ele chega atrasado no trabalho de novo, recebe, através de Luísa, a notícia de que está demitido. A partir disso, com uma simples carona, os dois começam a desenvolver uma relação.

Reassistindo um ano depois, pude ter certeza que O Dia Que Te Conheci trás consigo a alma da Filmes de Plástico, o cotidiano da realidade em que aqueles cineastas estão inseridos. O filme trás uma releitura de comédias românticas em uma narrativa simples, conta ali um dia, até então, como qualquer outro na vida de Zeca, lutando para acordar na hora e chegar no trabalho, mas que conforme o dia avança, ele conhece e se apaixona por Luisa, entre as conversas, e principalmente entre os silêncios que eles compartilham durante o dia. 

Pensando no gênero comédia romântica, podemos apontar alguns pontos convergentes com outras obras, como o próprio poster do filme, uma clara inspiração no filme Uma Linda Mulher (1990). Ainda no material promocional do filme, o trailer do filme também volta em uma ideia de uma comédia romântica muito mais comercial do que a obra é, passando a impressão de um filme estilo Globo Filmes. Uma clara tentativa de atingir um público maior, uma jogada justa, ao meu ver, ao mesmo tempo que eu sinto como se o filme estivesse sendo traído nessa jogada de marketing. 

O que mais me encanta, sempre, nos filmes da produtora, são os diálogos, e em O Dia Que Te Conheci. eles são a base de tudo. O Sotaque, as gírias, a naturalidade em que as conversas se desenrolam é de uma maestria irrefutável, tanto de André Novais, que escreve e dirige o filme, como de Renato Novais e Grace Passô que interpretam os protagonistas. Escrever diálogo não é uma tarefa fácil, é necessário bastante cuidado para que as falas não fiquem engessadas e consigam carregar em si as personalidades dos personagens em vez de parecer todos o mesmo personagem ou parecer a voz do próprio autor. Aqui, André escreve diálogos fluidos e inteligentes capaz de criar comédia de momentos que por si só não é engraçado, por exemplo quando ele chama Luísa para ir até sua casa ver as receitas psiquiátricas dele. Por si só, isso não tem graça, mas a forma como é construída faz a sala de cinema inteira rir. 

Grace e Renato, por sua vez, fazem seu trabalho maravilhosamente bem, porque não adianta um roteiro bem escrito se o trabalho dos atores não forem a altura – ou vice versa. É a junção desses talentos que faz o filme brilhar. 

Ainda falando sobre a naturalidade dos personagens, é importante ressaltar que isso não se destaca só nos protagonistas. Desde de o motorista do ônibus (que é interpretado pelo pai de André e Renato), passando pelo cara com quem Zeca vai comer pastel enquanto espera o outro ônibus até a menina explicando para Zeca na biblioteca da escola qual é a história de O Pequeno Príncipe. Essa última é uma delicadeza, um charme, porque é uma cena boba, que não interfere no desenvolver da narrativa e poderia ser descartada, mas mesmo assim, a forma como a menina fala, até as pausas de respiros que interrompem das frases no meio que assistindo você pensa “É exatamente assim que uma criança fala na vida real”. 

Com todos esses pontos positivos, o recorte de, literalmente, O Dia Que Te Conheci, termina com vontade de saber o que aconteceria a seguir, quais seriam as conversas, as piadas, confissões… como esses personagens dariam continuidade a essa história. Sem titubear eu assistiria um O Dia Depois Que Te Conheci.

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