Entre os dias 19 e 24 de junho de 2024, aconteceu a décima nona edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto. Dentro de sua deslumbrante programação, aconteceu um excelente encontro de educação, promovido pela Rede Kino. Durante vários dias, diversos educadores e profissionais do cinema ligados à educação conversaram, investigaram e debateram sobre a elaboração do plano nacional de cinema na escola.

Anteriormente à abertura do festival, foi realizada uma chamada pública para receber contribuições para um debate sobre a proposta de regulamentação da lei 13.006/14. Apesar de já ter completado 10 anos de existência, esta lei é pouco conhecida e, menos ainda, exercida na prática nas escolas. Ela estabelece um tempo mínimo mensal de exibição de filmes brasileiros na sala de aula.
O Cineop apresentou-se como um evento ideal para que essas contribuições fossem discutidas e exploradas nos encontros de educação. Com curadoria das professoras Adriana Fresquet e Clarisse Alvarenga, foram estabelecidos quatro grupos de trabalho temático: 1) Formação docente, 2) Condições de produção e exibição, 3) Acervos e curadorias e 4) Pedagogias. O objetivo de cada grupo foi utilizar todas as indicações e ponderações acerca da presença do cinema na escola e sintetizar em uma carta que visa estabelecer um plano de acolhimento do cinema na educação básica.

Cinema na escola
Cada vez mais, a presença do cinema na escola é uma realidade. Apesar de muitos educadores ainda enfrentarem diversos obstáculos para utilizarem a linguagem audiovisual em suas aulas, há progressivamente, um maior interesse e participação destes profissionais em eventos, congressos e programas de pesquisa em busca de formação e conhecimento dentro desta seara. Ao fim das reuniões dos grupos, foi elaborada a Carta de Ouro Preto 2024. Esse texto encaminha as considerações e aspirações que norteiam o constante desejo de estabelecer o cinema como um alicerce de produção de conhecimento na escola.
O cinema possui um significativo potencial pedagógico e interdisciplinar. Por meio de uma apropriação da linguagem audiovisual, os estudantes podem compreender e transformar o mundo ao redor. Iniciando de uma noção sobre o ambiente escolar para além dos muros da escola. Através da apreciação, fomenta-se novos modos de refletir sobre conhecimentos escolares e como eles dialogam com vivências próprias. Através da criação, promove-se formas de compreender-se melhor no mundo, por meio de uma visão sem amarras.

A criação fílmica escolar
Através da prática cinematográfica, o estudante pode se apropriar da criação de imagens audiovisuais com base na alteridade de sua visão particular. Ou seja, o cinema proporciona modos de aprendizado. Se a imagem pode ser vista como conhecimento, criar uma imagem é produzir conhecimento. Levar o estudante a conhecer as técnicas e códigos audiovisuais para transformá-los é incentivar um ensino significativo e emancipatório.
Isso nos leva a outra parte marcante da programação da 19ª Cineop: A mostra educação, cujo programa apresentou filmes sobre projetos educativos de cinema e filmes realizados por crianças e jovens de inúmeras escolas de diversas partes do país. A prática cinematográfica escolar contribui em uma gradual e significativa democratização dos meios de produção culturais e artísticos. Desse modo entendemos como o cinema na escola colabora com uma reorganização cultural do poder, de um modelo verticalizado para um modelo mais descentralizado e uma democratização da produção cultural.
Algumas dessas sessões contaram com a participação de alunos da rede pública de Ouro Preto como espectadores. Um incentivo à formação de plateias e, também, à criação audiovisual. Assistir a um filme, em um ambiente ou contexto escolar, oportuniza o surgimento de novas questões sobre o mesmo. A partir desse contato, eles podem imaginar como fariam determinada cena, ou como mudariam o final de um determinado filme. Especialmente, ao verem que outros estudantes já, também, o fizeram.

Pedagogia do cinema
Professores e diversos educadores que foram ao Cineop como representantes destes filmes escolares puderam apresentar um pouco sobre o trabalho que eles já realizam nas instituições de ensino ao redor do país. A presença de cada um no festival, foi preciosa, inicialmente, nos debates dos grupos temáticos, na contribuição da elaboração da Carta de Ouro Preto 2024. Ainda que as condições atuais para que o cinema esteja presente nas escolas sejam bastante precárias, esses profissionais da educação estão lá orientando e estimulando a produção de seus estudantes, com muito amor pela educação e pelo cinema.
A contribuição destes profissionais que estão todos os dias empenhando-se no chão da escola foi essencial para que seja divulgado o que precisa melhorar e o que se fez até aqui. Ou seja, a carta que foi redigida em defesa da presença do cinema na escola incorporou e ativou ações que de alguma forma já estão nas escolas, na presença destes educadores.

Em segundo lugar, a contribuição desses profissionais se deu também no incentivo aos professores que estiveram como espectadores dos debates e das mostras. São pessoas que estão na educação e sentem cada vez um maior entusiasmo em explorar o potencial pedagógico do cinema em sala de aula. De forma igualmente valiosa, estavam, também, presentes nos debates, gestores de educação e estudantes. Sendo que nesse segundo grupo, muitos sentiram-se bem à vontade para expressar algo que normalmente é ignorado nas escolas: suas vozes.
Ao expor que os estudantes são parte essencial do movimento para assegurar a presença do cinema (e do cinema brasileiro) nas escolas, percebe-se a importância da prática da escuta aos estudantes. O cinema contribui efusivamente para um processo de ensino-aprendizado mais emancipatório e horizontal.

O que esperar
Por fim, aponta-se, também, a relevância de alguns debates terem contado com a participação de representantes do Ministério da Cultura, que contribuíram com suas perspectivas em relação a como buscar o reconhecimento do cinema na educação dentro da dialética do poder legislativo. Além disso, o lançamento de uma plataforma de streaming gratuita do cinema brasileiro pelo Ministério da Cultura é vista como um dispositivo significativo para que o audiovisual esteja cada vez mais presente na educação brasileira. Você pode conferir um pouco mais sobre como foram os debates e apresentações de projetos educativos, e também ler a Carta de Ouro Preto 2024 nos seguintes links: Site do festival e canal do YouTube do Festival.

