Crítica escrita por Otávio Leocádio.
Sinopse: Na tentativa de chamar atenção para a crise ambiental, um grupo de jovens ativistas decide invadir e vandalizar uma loja de móveis. No entanto, o protesto rapidamente se transforma em um verdadeiro massacre quando se veem presos lá dentro com um segurança com uma obsessão doentia por caça. Conforme a violência e o terror tomam conta da noite, os adolescentes se veem em uma luta desesperada por sobrevivência contra um assassino implacável e perturbador.
Hora do Massacre (2023) traz a história de um grupo de jovens ativistas que invade uma loja de móveis a fim de protestar e chamar atenção para as mudanças climáticas, porém acabam ficando presos com um segurança obcecado por caça primitiva, interpretado por Turlough Convery (Killing Eve). O que começa com um protesto, rapidamente se transforma em uma luta por sobrevivência e um massacre onde cada jovem deve fazer o que for preciso para sair vivo do estabelecimento.
O filme tem um começo tímido que nos faz duvidar um pouco se a experiência vai valer a pena. No início, os personagens demoram longos minutos para parecerem pessoas reais, embalados em diálogos que, algumas vezes, soam pouco naturais, criando aquele momento chato em que você percebe que está vendo um filme. A partir da primeira morte, entretanto, o suspense e a ansiedade que passam a embrulhar a narrativa conseguem tirar o foco dessa falta de naturalidade nos diálogos: todas as falas estão tão carregadas de medo que elas não precisam mais soar naturais.
Ainda sobre os personagens, eles possuem seus pontos altos e baixos. Dentro da superficialidade em que todos estão, o assassino é bem desenvolvido. Apesar de não nos serem dadas as motivações de praticamente nenhum deles, o que nos é dado é aceitável para compreender suas ações. Quanto aos ativistas, a superficialidade do discurso deles cria uma metáfora divertida. Eles invadem a loja para vandalizá-la como protesto às destruições ambientais causadas por ela ao construir os móveis. Em momento algum do filme nos é explicada a história de fundo desses personagens, como eles se conectaram, quem ali é mais próximo de quem, etc. Essa relação entre eles é muito pouco explorada, exceto por uma única fala de uma das personagens, já no terceiro ato do filme, que explica o porquê dela estar lutando por aquela causa, revelando-nos que o ódio dela pela loja sequer realmente é pela causa ambiental. Dessa forma, quando o segurança de plantão na loja vem a ser um praticante de caça primitiva mentalmente instável, que vai caçá-los durante aquela noite, cria-se essa metáfora, esse jogo de discurso, igualmente raso, mas que, no filme, funciona.
Essas mortes, por sua vez, são muito bem trabalhadas na obra. O gore é usado sem exageros e, em certos momentos, a falta dele consegue ser tão gráfica quanto se o sangue estivesse presente. Uma das mortes é trabalhada totalmente nos sons dos ossos das personagens sendo quebrados contra uma parede, criando uma agonia que, muitas vezes, não ocorreria para quem consome o gênero e já está anestesiado de ver um líquido vermelho na tela.
Por ter tantos elementos que funcionam, uma das maiores decepções com o filme é o título brasileiro da obra. Originalmente “Wake Up”, termo usado no ativismo dos personagens, é um título que funciona e faz sentido dentro da narrativa do filme. “Hora do Massacre”, por sua vez, é tão esquecível e batido que não apetece minimamente qualquer possível espectador.
No final, o longa é uma surpresa agradável, um filme que consegue cumprir muito bem o que se propõe, causando todos os sentimentos que um bom slasher precisa causar — e na quantidade certa. Ele nos faz sentir angústia e alívio para, mais tarde, nos fazer sentir angústia novamente; nos deixa apreensivos, nos faz esquecer daquele perigo iminente para, depois, jogá-lo na nossa cara com um golpe duro, o que é mais um ponto que o filme trabalha muito bem. Uma das armadilhas montadas pelo assassino protagoniza um desses momentos. Com um clássico fio esticado perto do chão, para ser acionado quando alguém passa com o pé, cria-se um momento de tensão. O personagem fica em um vai e não vai e, no final, recua e não aciona a armadilha. Dentro de poucos minutos, o espectador experimenta tantos acontecimentos no filme que aquela armadilha é facilmente esquecível. E aí vem o pulo do gato: em menos de dez minutos, outro personagem é pego pela armadilha. Com isso, se você prevê que alguém vai morrer ali, quando a personagem é pega, você se sente inteligente e dá créditos ao filme por isso. Agora, se você esquece daquilo, quando ela é acionada e você lembra que aquilo estava ali o tempo todo, você pensa que o diretor é um gênio e dá créditos ao filme por isso também.
Em resumo, Hora do Massacre está longe de querer revolucionar o gênero, mas consegue entregar uma experiência satisfatória, cumprindo o que promete e proporcionando uma montanha-russa emocional. No final das contas, o saldo ainda é bastante positivo e vale o valor do ingresso.