A 15ª Mostra de Filmes Universitários da Universidade Federal Fluminense começa hoje (23/11), a partir de 19h. Serão exibidos e debatidos, na sala de projeção do Novo IACS (Campus Gragoatá), seis curtas-metragens de realizadores ligados à UFF. Na posição de mediadora do debate desse primeiro dia, teremos a Professora Doutora Mariana Baltar. Já na sexta-feira, dia (24/11), outras obras comporão a programação, com mediação de Maju de Piava, e, nos dias 28 e 29 de novembro, a mostra Uffilme retorna para o fechamento dessa edição. A programação completa pode ser conferida no Instagram do evento.
A mostra UFFilme recebe também, como demanda dos próprios alunos, uma série de críticas dos filmes selecionados que serão publicadas no Observatório de Cinema e Audiovisual. Tais textos serão, todos, assinados por uma comissão composta por graduandos de diferentes cursos do Instituto de Artes e Comunicação Social. Desse modo, os elos da cadeia audiovisual presentes no evento passarão a ser trabalhados por estudantes universitários. Acompanhem as nossas postagens para conferir essas publicações ao longo dos próximos dias. Compondo esta chamada, por fim, trazemos a crítica do filme O Rio de Cada Um, escrita pela aluna Luiza Pinto Joaquim (oitavo período do curso de Cinema e Audiovisual). Não deixem de conferir!
Crítica do filme O Rio de Cada Um
A Cidade é maravilhosa para quem? Todos veem, todos conhecem, mas nem todos têm acesso. Questionamentos como esse são levantados pelo curta documental e independente O Rio de Cada Um, de Pedro Marchiori, o qual pauta debates sociais por meio de entrevistas com diferentes pessoas da Zona Sul do Rio de Janeiro, mais especificamente Ipanema, Copacabana e PPC (Cantagalo-Pavão-Pavãozinho), no ano de 2022.
A obra trabalha muito bem a ordem na qual os entrevistados aparecem em tela e em como as suas diferentes respostas se complementam. O ritmo dos acontecimentos também é bem construído, já que no começo a narrativa parece surgir dentro de uma lógica mais pautada pela felicidade, porém logo é possível perceber que nem tudo é perfeito na sutileza de diferentes respostas. Os personagens se encontram na mesma região, estado e cidade, porém é de fácil percepção como eles têm diferentes visões sobre seu ambiente e seu lugar no mundo, mostrando clara noção dos locais aos quais “pertencem” e daqueles que não.
As diferenças de classe são perceptíveis nos pequenos detalhes: pelo ambiente em que cada um está inserido nas entrevistas, por suas roupas, por suas respostas acerca dos lugares que acham mais bonitos, e também por aquelas que dizem respeito aos motivos que os levam a não irem para determinados pontos que são comumente associados como cartões-postais da cidade. Todos respondem às mesmas perguntas sobre a mesma cidade, porém parece que falam de diferentes lugares.
O curta é muito bem trabalhado nos temas e abordagens levantados. Muito disso se deve a direção, roteiro, montagem e sound design feitos por Pedro Marchiori, que produz a construção orgânica da obra. A direção tem bastante peso na influência das perguntas e andamento das respostas dos entrevistados. Não são somente das perguntas e respostas, mas também na criação de uma ligação do público com essas pessoas e suas histórias. Por exemplo, nos enquadramentos utilizados nas entrevistas que são sempre próximos dos entrevistados.
A montagem tem um bom ritmo e complementa bem a direção de fotografia e colorização escolhidas. As diferenças nas cores e na iluminação utilizadas em cada entrevistado contribuem a contar a história com seus tons quentes e frios aplicados de forma própria para cada um. Já no trabalho som, é possível notar a dedicação para manter o volume das falas audíveis. Além disso, o departamento ajuda a criar uma ambiência bastante interessante, uma vez que não se insere uma música de fundo no momento das falas, fazendo assim com que haja a composição do silêncio dos pensamentos dos personagens enquanto refletem sobre o que vão falar com as suas respostas. As músicas entram pontualmente para construir a linha narrativa do curta.
Esse documentário levanta muitas questões a serem debatidas. Questões essas não respondidas na obra, mas que me levaram a refletir sobre como pessoas que moram na mesma região tem tantas diferenças entre si, nas suas visões de mundo, e em como os ambientes geram grande influência na noção de pertencimento. Muito mais do que paramos para pensar.
Outro ponto interessante é perceber como as visões de futuro das pessoas de classe mais baixa, com relação a aplicação de políticas públicas, voltam para pensar ações que possam levar a uma educação melhor. É a partir desse ponto que se dá a busca por uma sociedade mais evoluída. O que pode, inclusive, contribuir para que mais pessoas tenham acesso aos lugares. Por outro lado, as pessoas de classe alta pensam uma realidade na qual a política acabe com a impunidade dos criminosos, garantindo um maior sentimento de segurança. Apesar das opiniões diferentes, todos convergem no mesmo ponto: na esperança de um futuro melhor.