2022 foi um ano conturbado. Para o OCA-UFF, no entanto, foi um ano de concretização. Apesar de todas as dificuldades, chegamos ao final de nosso primeiro ano com o projeto bastante consolidado. As nossas seis editorias se mostraram bem sucedida em trazer colunas, artigos, entrevistas, notícias e entrevistas… Demonstrando grande repertório temático em diferentes níveis de complexidade, e que busca ampliar o alcance do material que vem sendo produzido pela academia. Foram mais de 100 publicações apenas no primeiro ano de OCA-UFF.
Vale destacar que se tratam de trabalhos que vieram não só da pós-graduação da UFF, mas também da graduação, demonstrando a alta qualidade do que se tem produzido dentro da universidade. Além disso, também é importante ressaltar a participação de convidados de fora da Universidade Federal Fluminense, que demonstraram a força e o potencial do projeto em abrigar e dar voz ao mais diferentes pesquisadores de audiovisual do país.
A nossa meta para o próximo ano é clara: ampliar ainda mais o projeto, para que ele se consolide cada vez mais como uma plataforma de referência sobre os estudos e notícias do audiovisual.
De forma a relembrar um pouco do que foi produzido esse ano, nossas editorias farão retrospectivas especiais selecionando alguns dos trabalhos de maior destaque em cada uma delas.
Começando pela editoria de Cinema e Audiovisual na Web:
1) Euphoria e a Subversão do Subúrbio
Por Illana Paula Invanicksa da Silva
Graduanda da UFF, Illana escreve um belo texto sobre uma das séries mais cultuadas do ano: Euphoria, da HBOMax. Nele, a autora discute sobre como a série trabalha o subgênero do suburbanismo gótico – criando um retrato bastante distópico dos subúrbios estadunidenses. Assim, ela demonstra a crise na classe média do país, assolada por drogas, abusos, assédios, endividamentos – bem diferente do retrato das clássicas sitcoms. Se focando em um dos episódios mais tecnicamente impressionantes da série, Ilana destrincha um pouco das perversidades por trás daquele mundo. Segundo ela:
Geograficamente, em Euphoria o subúrbio apresenta áreas mais incongruentes com a paisagem normalmente residencial e homogênea desse tipo de urbanização: o comércio (lojas de conveniências, postos, pequenos comércios) já começa a invadir os arredores da vizinhança e jovens se drogam em becos e garagens. O cenário de casinhas iguais e limpas já não é predominante. Algo que pode até ser visto como metáfora para as drogas terem chegado tão a fundo nesse local – afinal, drogas e crime seriam coisas da cidade que começa a invadir a paz suburbana. Poderia-se fazer até uma analogia com a visão distópica do subúrbio apresentada em De Volta para o Futuro (Robert Zemeckis, 1989), quando McFly visita sua família no futuro. Estaríamos entrando no futuro em que o sonho americano começa a decair?
2) Bela, Recatada, Do Lar e Infeliz
Por Micaela Ayer
Também graduanda da UFF, Micaela escreve quase uma sequência espiritual do trabalho de Illana. Focando na série super premiada Mad Men (hoje na GloboPlay), a autora demonstra como sua protagonista, Betty Draper, é a prova de como as mulheres sempre foram alijadas do “Sonho Americano”. Apresentada como “esposa troféu” e como tendo todos os “predicados desejáveis” exigidos pela sociedade estadunidense da época, Betty é uma heroína trágica, que demonstra que não há espaço para sua individualidade e felicidade naquele mundo. Como ela afirma:
E para todo cidadão de bem, há sempre uma esposa troféu. Em Mad Men, Betty Draper (January Jones) assume esse papel. Elizabeth “Betty” Hofstadt é a esposa de Don e a típica dona de casa dos anos 1960. Branca, magra e loira de olhos azuis, a senhora Draper vive uma vida tranquila no subúrbio estadunidense, onde cria os dois filhos pequenos, Sally (Kiernan Shipka) e Bobby (Jared Gilmore). Por fora, Betty é tudo que uma mulher daquela época deveria ser: uma linda jovem que foi criada para acreditar que a beleza era a passagem para o casamento e o matrimônio era o destino final (THE TAKE, 2020). Mas, ao olhar mais de perto, podemos observar que Betty é extremamente infeliz. Ao ser criada para ser uma imagem decorativa, ela acaba se tornando uma mulher dependente e sem aspirações próprias. Apesar de levar uma vida confortável como manda o sonho americano, Betty se sente frustrada com as limitações impostas pelos papéis tradicionais de gênero e as privações da vida pós-casamento.
3) 5 Filmes Dirigidos por Mulheres para ver na Mubi.
Por Julia Alimonda.
Já que nossa retrospectiva traz dois artigos sobre mulheres escrito por pesquisadoras, nada mais adequado do que encerrar com as recomendações de nossa editora de Questões de Gênero de filmes dirigidos por diretoras. Além disso, vale sempre fazer um aceno à MUBI – uma das mais interessantes plataformas de streaming disponíveis. Com um catálogo bastante único, a MUBI se diferencia de suas concorrentes e traz um certo frescor pro mundo do streaming. E por mais que alguns dos filmes não estejam mais no acervo da plataforma, a recomendação deles continua bastante válida.