O Festival Internacional de Cinema do Rio ocorrerá entre os dias 06 e 16 de outubro. Considerado o maior da América Latina, o festival conta com a apresentação e patrocínio master da Shell Brasil, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e da Prefeitura do Rio de Janeiro, por meio da RioFilme – órgão que integra a SEGOVI (Secretaria Municipal de Governo e Integridade Pública) –, segundo a organização do evento.
O Festival do Rio divulgou recentemente a listagem de filmes selecionados pela curadoria para compor a Première Brasil deste ano. Assim, analisamos a representatividade negra na edição de 2022, a partir de um Mapeamento, onde foi possível aferir a presença de negros e negras, diretores e diretoras, que assinam sozinhos, ou em codireções, as obras selecionadas. Desta maneira, além da heteroidentificação por fotos e vídeos, os realizadores e realizadoras identificados na categoria “pardos” responderam como se autodeclaram etnicamente.
Para a Première Brasil do Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, foram selecionados 69 filmes, dos quais apenas 13 são de diretores e diretoras negras, o que corresponde a 18,8% do total. O grupo é composto de 7 homens, 53,8%, e 6 mulheres, 46,2%, todos cisgêneros.
Consideramos à análise quatro Mostras da Première Brasil, a saber: “Competitiva Nacional” e “Novos Rumos” – curtas e longas-metragens nas categorias Ficção e Documentário. Além dos filmes que compõem as Mostras não-competitivas “O Estado das Coisas” e “Retratos”. Não consideramos os filmes “Hors Concours”.
O número de selecionados contrasta com a representação negra na sociedade brasileira, uma vez que, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2019, 46,8% se autodeclaram pardos e 9,4% se autodeclaram pretos, o que corresponde a 52,1% da população brasileira, enquanto 42,7% dos brasileiros se autodeclararam como brancos e 1,1% como amarelos ou indígenas. Isso evidencia que os filmes exibidos no Festival do Rio não são dirigidos por pessoas componentes do maior grupo étnico-racial no país.
Analisamos também as Mostras de maneira isolada. Assim, foram selecionados 50 filmes nas duas principais Mostras do Festival do Rio. Negros e negras dirigem 24% dos filmes selecionados, entre curtas e longas-metragens, que concorrerão ao troféu Redentor.
Entre os longas-metragens de ficção, da Competitiva Nacional da Première Brasil, foram selecionadas 11 obras, das quais 3 são de realizadores negros ou negras. São elas: “Bem-vinda, Violeta”, de Fernando Fraiha (do qual não conseguimos a autodeclaração, mas o consideramos pardo pela heteroidentificação); “Propriedade”, de Daniel Bandeira; e “Bocaina”, que Ana Flávia Cavalcanti codirige com Fellipe Barbosa.
Dentre os documentários de longa-metragem foram selecionados 9 filmes, dos quais 2 foram realizados por negros ou negras. São essas as obras: “Diálogos com Ruth de Souza”, de Juliana Vicente e “7 cortes de cabelo no Congo”, de Luciana Bezerra, que codirige o longa com Gustavo Melo e Pedro Rossi.
O panorama não é muito diferente na categoria de curtas-metragens da Mostra Competitiva Nacional da Première Brasil. Dos 14 filmes selecionados entre documentários e ficções, apenas 3 foram realizados por cineastas negras e negros: “Contando aviões”, de Fabio Rodrigo; “Último domingo”, de Joana Claude, que codirige com Renan Barbosa Brandão; e “Solmatalua”, de Rodrigo Ribeiro-Andrade. Consideramos não ser possível aferir, por heteroidentificação, o realizador Marcus Curvelo, do filme “Garotos Ingleses“, embora se autodeclare pardo.
A segunda Mostra em relevância no Festival do Rio é a “Novos Rumos”, para a qual foram selecionados 8 longas-metragens, e apenas um é dirigido por uma realizadora negra: “Maputo Nakuzandza”, de Ariadine Zaumpaulo.
Dentre os 8 curtas-metragens selecionados na “Novos Rumos”, dois são dirigidos por cineastas negros: “Caminhos afrodiaspóricos do recôncavo da Guanabara”, de Wagner Novais, e “Entre a colônia e as estrelas”, de Lorran Dias.
Na “Mostra Novos Rumos” o percentual de realizadores negros e negras é de apenas 18,75%. Enquanto na “Competitiva Nacional” é de 23,5% o percentual de filmes dirigidos por negros.
Analisamos ainda duas Mostras não competitivas. Na “Mostra O Estado das Coisas”, dos 7 longas-metragens selecionados, apenas 1 é de cineasta negro: “Um tiro no escuro”, de Paulo Ferreira. Nesta Mostra foram selecionados mais 4 curtas-metragens, dos quais um diretor é negro, Clementino Júnior, que assina o curta “Romão“.
Por fim, na “Mostra Retratos” foram selecionados 8 filmes pela curadoria do Festival, e não foi identificado nenhum filme dirigido por cineasta negro ou negra.
Abaixo a lista de filmes, de diretoras e diretores negros, que serão exibidos no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, em outubro.
COMPETIÇÃO NACIONAL
Longas de ficção
“Bem-vinda, Violeta”, de Fernando Fraiha
“Bocaina”, de Ana Flávia Cavalcanti e Fellipe Barbosa
“Propriedade”, de Daniel Bandeira
Longas documentário
“7 cortes de cabelo no Congo”, de Luciana Bezerra, Gustavo Melo e Pedro Rossi
“Diálogos com Ruth de Souza”, de Juliana Vicente
Curtas
“Contando aviões”, de Fabio Rodrigo
“Último domingo”, de Joana Claude e Renan Barbosa Brandão
“Solmatalua”, de Rodrigo Ribeiro-Andrade
MOSTRA NOVOS RUMOS
Longas
“Maputo Nakuzandza”, de Ariadine Zaumpaulo
Curtas
“Caminhos afrodiaspóricos do recôncavo da Guanabara”, de Wagner Novais
“Entre a colônia e as estrelas”, de Lorran Dias
MOSTRA O ESTADO DAS COISAS
Longas
“Um tiro no escuro”, de Paulo Ferreira
Curtas
“Romão”, de Clementino Júnior
Texto de Márcio Brito Neto, cineasta e pesquisador, doutorando do Programa de Pós Graduação em Cinema e Audiovisual (PPGCine) da Universidade Federal Fluminense (UFF).