Por Guilherme Vilar Motta Vasconcelos
Texto originalmente escrito para a disciplina “A Gênese do American Dream” do professor Pedro Lauria, pelo programa de Cinema e Audiovisual da UFF.
Mal Divas em Maldivas: Relações entre a vida privada de madames de um condomínio da Barra da Tijuca e o Suburbanismo Gótico Estadunidense
“Se tem uma coisa que você precisa saber sobre esse lugar, é que nada aqui é o que parece: bem-vindos ao Maldivas!”
É assim que o espectador é ambientado nos segundos iniciais do primeiro episódio da trama. A série “Maldivas”, lançada em junho de 2022 pela Netflix, tem como cenário um condomínio fechado no bairro nobre da Barra da Tijuca, localizado no Rio De Janeiro, denominado Maldivas. Nele, vivem as principais personagens da trama: mulheres ricas que vivem circulando entre as áreas comuns do prédio, desde a piscina e o bar até a academia e o spa. Tudo se apresenta em harmonia, segurança e elegância até que um incêndio em um dos apartamentos coloque Maldivas sob uma lente de aumento, destacando as rachaduras das paredes do prédio e da vida das protagonistas. Dentre estas: Milene, a síndica do condomínio aspirante a blogueira, Kátia, a única perua que é mãe de família do grupo, Rayssa, a empresária de sucesso que foi uma dançarina de axé nos anos 90, e Patrícia, a solteirona dedicada aos prazeres carnais da vida – com um passado um tanto quanto misterioso. O condomínio ainda conta com a outsider do grupo das “mal divas”: a moradora Mortícia, uma mulher enigmática e sarcástica que, para além de narrar a história, é o principal ponto de vista dos acontecimentos da trama que evocam esse Suburbanismo Gótico versão tupiniquim. A sátira da Barra Da Tijuca conduz o espectador a uma atmosfera debochada e, ao mesmo tempo, sombria nos mistérios que são desvendados ao longo desse gótico, ainda que colorido, condomínio.
O subgênero cinematográfico “Suburbanismo Gótico” é condicionado, por excelência, como uma configuração narrativa destinada à subversão do conceito do American Dream, popularizado durante os anos 1950 nos Estados Unidos com a proliferação dos subúrbios como a nova moradia da classe média. Com o foco de uniformizar a população em um tipo de família nuclear com um padrão de consumo capitalista, o American Dream prezava pelo sonho de uma vida financeiramente confortável. Os subúrbios, então, foram lapidados para a inauguração pós Segunda Guerra de um “american way of life” heteronormativo, familiar e homogêneo, uma vez que a arquitetura semelhante das casas sugeria uma harmonia entre a vizinhança, que acreditava nos mesmos ideais para uma vida pacífica e, por conseguinte, perfeita. Em contrapartida a outros subgêneros que exaltam esses valores do “sonho estadunidense”, como os filmes de cidade pequena (“Small Town Movies”) ou os seriados de comédia (“Sitcoms”) da década de 1950, o Suburbanismo Gótico se revela “um subgênero preocupado em jogar com a persistente suspeita de que mesmo o bairro de aparência mais comum, ou casa, ou família – ou, nesse caso, um condomínio – tem algo a esconder, e que não importa o quão calmo e estável seja um lugar, está apenas a um momento de distância de um incidente dramático (e geralmente sinistro)” (MURPHY, 2009, p.2). Assim, a série da Netflix, ao se dispor desmascarar ou “incendiar” a imagem da classe média brasileira em um condomínio aparentemente perfeito, acaba por beber na fonte do subgênero em evidência.
A princípio, Maldivas parece o condomínio dos sonhos. No entanto, a narrativa da série, escrita pela showrunner brasileira Natália Klein, desconstrói esse “Brazilian Dream” galgado nos ideais muito similares ao “jeitinho norte-americano de viver”. Nesse sentido, o enredo envereda em uma desarticulação dos pilares que sustentam as mal divas, isto é, os episódios se dedicam a revelar os podres por trás das pilastras de mármore onde essas mulheres se escondem. Após um incêndio no apartamento da solteirona Patrícia causar sua morte, as investigações policiais colocam as mulheres do grupo como suspeitas de iniciarem o fogaréu, posto que todas detinham motivos para planejar um atentado contra Patrícia. Assim, em meio ao suspense da investigação, o tão gradeado e supervisionado Maldivas passa a ser considerado um lugar perigoso, como um covil de criminosos e assassinos em potencial, e as amigas aumentam suas desconfianças entre si, ao passo que uma nova moradora adentra os muros do condomínio: Liz, uma garota recém-noivada que chega do interior de Goiás com o objetivo de reencontrar sua mãe ausente. De um modo geral, Maldivas expõe os pesadelos das vidas das protagonistas com um humor sarcástico, ao mesmo tempo que trabalha a atmosfera misteriosa de um assassinato. Por meio de sete episódios, cada um com 35 minutos em média, o roteiro tenta criar um suspense investigativo mesclado com uma dramédia relativamente melodramática cheia de reviravoltas, uma vez que referencia um dos gêneros audiovisuais mais populares do país: a telenovela.
É justamente em meio à resposta caótica de condôminos barrenses, frente ao crime qualificado, que as influências e as afluências de um Suburbanismo Gótico emergem na superfície, como uma boia de flamingo na piscina do prédio de luxo. Tal como um subúrbio típico dos EUA, o conglomerado fictício brasileiro abriga famílias tradicionais de classe média, que vivem distantes da parte comercial do Rio De Janeiro e que se sentem seguras por um patrimônio financeiro que arca com a proteção de suas propriedades privadas. Em síntese, o remoto e residencial Maldivas faz clara referência a um subúrbio estadunidense, tanto é que, na crítica voltada à série brasileira, o site Omelete classificou a obra como uma “superprodução à la Desperate Housewives” – série de televisão norte-americana que retrata mulheres que passam por adversidades, desde divórcios e brigas até suicídios e assassinatos, atrás da fachada perfeita do cartão-postal de um subúrbio dos Estados Unidos. Paralelamente, a produção da Netflix tenta abrasileirar as questões contemporâneas da mulher de classe média/classe média alta ao investigar o que se passa dentro dos apartamentos de cada uma das personagens principais, à medida que é criada no espectador a clássica indagação: “Quem matou quem?”. No caso, qual das madames da Zona Oeste do Rio matou – ou incendiou – Patrícia Duque, uma vez que todas as mal divas tornam-se possíveis assassinas.

A começar por Milene, logo percebe-se que a personagem centraliza o estereótipo de uma mulher branca privilegiada e egocêntrica. Loira e magra, Milene é uma garota que, adequada aos padrões estéticos da sociedade do século XXI, se casou com um homem que a ajudou a se padronizar ainda mais, afinal, o marido é um cirurgião plástico. Contudo, por trás da aparente vida bem-sucedida da administradora do Maldivas, ao decorrer dos capítulos descobre-se que tanto Milene quanto seu esposo possuem casos extraconjugais. Para compensar as traições de seu marido com as pacientes siliconadas, Milene aderiu a vícios – como compras de artigos de luxo dispensáveis, bebidas caras e plásticas desnecessárias – que suscitaram dívidas exorbitantes, que ela esconde com pesar. Além disso, enquanto síndica, a blogueira está metida em um esquema de corrupção da verba do condomínio, sofrendo constantes ameaças caso ela não convença os moradores a optarem pela contratação dos serviços de uma nova empresa de segurança privada. Em relação ao homicídio, um dia antes do incêndio, Patrícia tornou-se a nova síndica, após se voltar contra a nova proposta de segurança junto a outros vizinhos – o que pode ter motivado a ameaçada Milene a planejar um curto-circuito na corrente elétrica do apartamento da vítima.
Já ao desmascarar Kátia, a narrativa dispõe-se a examinar o seio da família tradicional brasileira. É dito sobre essa personagem que ela se casou jovem com o namorado Gustavo, e se tornaram um “casal perfeito” com dois filhos. Segundo a narração de Mortícia, “eles fizeram um acordo: Kátia ficaria em casa criando a família, e Gustavo cuidaria do leite das crianças”. No entanto, é relatado na trama que Gustavo se envolveu em um esquema multimilionário de lavagem de dinheiro, o que comprometeu a renda da família quando o “provedor do leite das crianças” passou a usar uma tornozeleira eletrônica dentro de casa. A árvore genealógica de classe média alta se mostra ainda mais disfuncional quando surge à tona que Kátia abriu uma conta fantasma no nome de Patrícia, uma vez que fazer dela “laranja” mostrava-se um bom negócio devido ao fato de ela não ter filhos ou outros familiares – o que ratifica a suspeita de que Kátia estaria envolvida no incêndio, após a revelação de que Patrícia havia descoberto o esquema e iria denunciá-la por fraude em breve. Em uma das cenas, preocupada em relação à possibilidade de ela e de seu marido serem presos e não educarem mais suas crianças, Kátia se lamenta ao dizer “O que será dos nossos filhos?”, ao mesmo tempo em que um dos filhos desenha vários pênis na parede do outro lado da sala sem nenhum tipo de supervisão. Nesse apartamento, então, percebe-se a ruína da estrutura de uma família murada em falsos moralismos.
Rayssa, por sua vez, carrega enquanto personagem diversas críticas sociais específicas e dificilmente encontradas em filmes desse subgênero, uma vez que minorias sociais tendem a não protagonizar os subúrbios hegemônicos brancos heteronormativos (MURPHY, 2009, p. 2). Enquanto a única madame negra do grupo e, talvez, do condomínio todo – visto que nenhuma outra moradora negra é retratada –, ela tem sua riqueza justificada na fama que alçou jovem ao participar de um grupo de axé nos tempos noventistas. Junto ao vocalista da banda – e posteriormente marido –, ela tornou-se empresária do spa do prédio e garota propaganda de algumas marcas, uma vez que a imagem vendida de um casal negro heterossexual que ascendeu socialmente pela “meritocracia” condiciona-se muito pertinente e lucrativa. Porém, ao contrário do que é estampado nas capas de revista e comerciais de margarina, eles vivem um casamento de fachada: enquanto ela relaciona-se com o marido cirurgião plástico de sua amiga Milene, Cauã tem como amante fixo o cabeleireiro de Rayssa. Assim, Rayssa e Cauã possuem esse acordo secreto para que possam continuar vendendo a narrativa de que os dois se amam incondicionalmente, conquanto a ausência de filhos esteja enfraquecendo a mentira e, consequentemente, o casal tem sido pressionado pelos patrocinadores a constituir uma família, sob o pretexto de que crianças dão engajamento nas redes. Ademais, Rayssa tem suspeita de envolvimento no incidente porque Patrícia havia descoberto a falcatrua das traições do casal – o que coloca todo o império que eles construíram sob risco.
Como suspeita, também tem-se Mortícia, a notável gótica desse condomínio de aparências. Narradora do seriado, Verônica, então apelidada como Mortícia, com vestes escuras e com a pele pálida por sempre estar localizada na parte da piscina onde não há sol, incorpora tudo o que aparentemente é controverso e, controversamente ou não, se torna a personagem mais sensata dentre todas as madames. Embora não tenha família, par romântico ou amigos – fugindo, assim, do padrão de estilo de vida de uma mulher de classe média –, Mortícia, na verdade, é a única quem verdadeiramente possuía uma amizade com Patrícia. Além disso, por ter uma visão muito crítica sobre os acontecimentos e as falsidades do lugar onde vive, Mortícia se consolida como a narradora ideal para conduzir o espectador na trama, haja vista que sua visão de Maldivas desnuda cada nuance falseada por poses, filtros do Instagram, rinoplastias, lavagens de dinheiro ou casamentos de fachada. Cabe ressaltar, também, que o nome da personagem faz honrosa menção à Mortícia da Família Addams, símbolo feminino central de uma sitcom que retratava uma família que fugia do padrão nuclear e estrutural estadunidense nos anos 60. Na série de 2022, a Mortícia do Maldivas subverte as noções preestabelecidas de como, em um recinto como um condomínio de luxo, uma mulher deve ser ou estar desempenhando seu papel na sociedade, mesmo sendo vista como a outsider sinistra.
Dessa forma, pode-se trabalhar com a ideia de que a personagem Mortícia é um elemento metafórico não somente místico, como também gótico, de uma bruxa na Barra Da Tijuca. Para além da referência do apelido ser Mortícia Addams, uma feiticeira, sua construção enquanto uma mulher excluída da vizinhança que coleciona um passado misterioso e uma ausência de figuras familiares aproxima a personagem da figura de uma bruxa. Seu poder, aliás, está contido na sua capacidade de narração, em que a condução – ou, por vezes, distorção – dos fatos está em suas mãos. Assim como a protagonista Samantha do remake da série dos anos 60 “A Feiticeira”, dirigido em 2005 por Nora Ephron, Mortícia “não é mais uma devota ou conflitante esposa, e sim uma jovem mulher independente que procura estabelecer uma vida à sua maneira longe de sua família intrometida” (MURPHY, p. 64). Desse modo, ela metaforiza a imagem de uma bruxa contemporânea que não só vivencia a contravenção do padrão de uma mulher tradicionalmente brasileira, como também constantemente satiriza e manipula, como um passe de mágica por via de suas ácidas narrações, essa moldagem fantasiosa e idílica de uma mulher perfeita. Assim, a fim de repaginar essa figura tão estigmatizada da bruxa, muitas personagens femininas, como Samantha e Mortícia, “estão sorrateiramente quebrando (ou, pelo menos, distorcendo) regras ideológicas” (MURPHY, p. 53).
Por fim, como vítima, Patrícia configura o apogeu do Suburbanismo Gótico do Maldivas. Com um passado misterioso sem marcas evidentes, Patrícia aparenta ser apenas mais uma perua da Barra da Tijuca, voltada às festas regadas com champanhe e aos relacionamentos sexuais com muitos parceiros, embora o incêndio tenha reacendido as cinzas do passado. Através de flashbacks, aborda-se que Patrícia fugiu de sua família e abandonou sua filha nas mãos de sua mãe, Joana, uma fria dona de terras de Goiás, após receber incontáveis ameaças de morte ainda injustificadas na primeira temporada do seriado. Com o passar do tempo, Patrícia assumiu sua nova identidade e se manteve escondida durante anos no condomínio de luxo até resolver forjar sua morte para fugir de novas ameaças de sua mãe, que finalmente encontrara sua localização. Logo, Patrícia é sua própria assassina, posto que forjou a própria morte para evitar o enfrentamento dos inconcluídos empecilhos de sua real identidade. E, Liz, a nova inquilina do Maldivas, é sua filha que está à sua procura. Destarte, Patrícia representa a fachada de uma casa bonita e bem-arrumada, que é incendiada porque seu interior acumula poeiras de um passado nada agradável debaixo do tapete, isto é, a principal temática explorada pelo subgênero voltado à desconstrução do arquétipo de um cidadão ou cidadã de classe média satisfeitos com a sua vida privada

Sob uma perspectiva ampliada, os elementos sintáticos do Suburbanismo Gótico podem ser associados à personagem Patrícia e como seu arco é construído. Na maioria das vezes, os protagonistas de textos góticos suburbanos tendem a tornar as coisas ainda piores para si mesmos por não admitirem realmente a existência de um problema ou ameaça que põe em risco seu verniz cuidadosamente mantido de felicidade e contentamento no início da narrativa. Em Maldivas, Patrícia vive durante anos mascarada em uma falsa personalidade para se esconder dos fantasmas que assombram seu passado. Rodeada por lazer, luxo e luxúria, Patrícia se esquece de encarar seus problemas e, quando uma ameaça bate sua porta, seu teto de vidro se estilhaça e se vê obrigada a incendiar a casa para esconder quaisquer cacos remanescentes. Todavia, quando retorna ao Maldivas sabendo que Liz está à sua procura, a mulher reencontra a filha ao final da primeira temporada, sugerindo o princípio de uma reconciliação após se desculpar por sua ausência durante os últimos anos e se justificar por sua subsequente morte forjada. Em outras palavras, Patrícia só começa seu processo de redenção quando assume seus problemas pessoais, em vez de incendiá-los.
Ainda sobre essas mulheres, assim como toda boa dona de casa de um subúrbio norte-americano, as protagonistas de Maldivas também possuem problemas alcoólicos. De acordo com a narradora-personagem Mortícia, “drinks são uma forma prática encontrada pela sociedade em transformar algo seco e amargo em palatável e colorido: meu paralelo favorito entre a realidade e as aparências”. Portanto, ao introduzir as personagens da trama, Mortícia relaciona a personalidade delas com tipos diferentes de bebida, como dizer que Rayssa é uma Piña Colada por ser “divertida e deliciosamente extravagante”, ou que Patrícia é como um gim por ser “forte e nostálgica”, sendo assim, as analogias colorem a superfície da personalidade profunda dessas mulheres que, por vezes, escondem amarguras. Dessa forma, os vícios dessas mulheres em álcool permeiam o enredo quase como se as taças com guarda-sóis de enfeite fossem objetos cênicos obrigatórios, uma vez que, para não se afogarem na piscina, elas preferem afogar suas angústias nas espreguiçadeiras em frente ao bar. Inclusive, em um dos episódios finais, é evidenciado que Mortícia lucra por meio de um acordo com o bartender do prédio ao vender, junto às bebidas, pacotes com drogas nos enfeites de guarda-sol. Em meio a esse esquema, várias senhoras do condomínio passam a se drogar por meio das bebidas “batizadas”, o que ressalta ainda mais a questão da mulher, reprimida dentro das grades do condomínio, recorrer a sintéticos anestesiantes para não se envolver em paranoias.
A exemplo disso, uma das moradoras coadjuvantes do Maldivas, após comprar o drink com o guarda-sol, dispara: “Graças a Deus, na minha casa ninguém usa droga!”, isto é, a tentativa de, mesmo com as infiltrações, promover o ideal de um “lar doce lar”. Por intermédio das construções cênicas, o roteiro recria as “Wonder Drugs” com propriedades sedativas dos anos 50/60, que eram consumidas por donas de casa dos subúrbios dos Estados Unidos, visto que “ajudava a anestesiar as ansiedades de uma mulher que deveria ao mesmo tempo se devotar a família, apoiar o marido, manter a casa limpa, deixar o jantar pronto, permanecer atrativa e otimista, enquanto mantinha o cabelo em ordem” (HALLBERSTAM, 1993, p.590). Atualmente, embora o advento da luta feminista tenha desconstruído esse papel social, muitas mulheres ainda vivem ansiosas devido à sobrecarga de atender aos atributos de uma dupla jornada: além dos afazeres domésticos e maternos, elas se dedicam ao ofício da carteira assinada. Portanto, a dependência de psicotrópicos viabiliza a atenuação dessa rotina exaustiva. Dessa forma, durante uma das cenas de reunião de condomínio, uma piada que é feita pela Mortícia, sobre o vício no medicamento para insônia Zolpidem por uma das residentes do condomínio, ganha outro prisma quando analisado todo o panorama em que as “drogas maravilhosas” são introduzidas no roteiro como vício das personagens femininas, seja por meio das bebidas alcoólicas, seja por meio dos analgésicos.
Outra provocação emulada pela roteirista Natália Klein se volta para a retratação da vida sexual das protagonistas do seriado. Ao decorrer dos episódios da primeira temporada, todas as principais madames do grupo desfrutam de, pelo menos, uma cena de sexo. A única que não tem sua sexualidade explicitada é Mortícia, embora haja uma menção, dada por ela mesma, a respeito de uma atração por mulheres ao flertar Milene. Em relação às outras, todavia, seus desejos sexuais estritamente heteroafetivos são apresentados de forma livre sem nenhum tipo de recriminação, apesar de, ao mesmo tempo, reforçarem os podres de suas vidas particulares. Por exemplo, em uma cena de sexo entre Kátia e Gustavo, há certo teor cômico voltado à maneira como o casal se excita durante o ato, posto que um se refere ao outro com palavras como “corrupta”, “criminoso” ou “lavagem de dinheiro”, sendo assim, o mau caráter que os dois compartilham torna-se um fetiche – relacionando, pois, sexo a uma certa depravação moral. Há, também, exemplificações que recaem sobre as cenas de sexo de Milene e Rayssa, posto que são práticas feitas com seus amantes extraconjugais, isto é, relacionadas a traições ou à vingança.
Entre o positivo e o negativo, portanto, a interpretação no tocante à abordagem sexual das personagens se faz subjetiva. Sob uma perspectiva positiva, a exploração da sexualidade das mal divas é feita sem objetificação do corpo feminino e evoca uma subversão na visão vitoriana, perpetuada nos moldes do American Dream, de que as “madames devem viver simplesmente alienadas ao sexo” (FRIEDAN, p. 28), uma vez que todas elas partilham de experiências sexuais enquanto uma característica intrínseca à realidade de suas tramas. Por um lado negativo, a correlação direta entre o sexo e as ansiedades que essas mulheres enfrentam ao longo da narrativa transforma a experiência sexual como uma metáfora do gótico suburbano, como se “a imagem de uma mulher estivesse concentrada em um puritanismo para renegar o sexo” (FRIEDAN, p. 58) e, caso as personagens continuem com suas traições e fetiches criminosos, jamais serão vistas como mulheres heroínas. De qualquer forma, tais cenas revelam sua importância ao não castrar o comportamento sexual de suas personagens e, ainda assim, aproveitar o lado anti-herói e controverso delas para lapidar um Suburbanismo Gótico que mostre ao público “sementes piores do que a inerente frustração dessa imagem” de “vazia passividade sorridente” condicionada ao esterótipo da mulher suburbana alheia à própria sexualidade (FRIEDAN, p. 57-58).
Em relação à questão das grades do condomínio, faz-se mister a abordagem do roteiro no tocante à seguridade promovida pelo condomínio Maldivas. Como apresentado anteriormente, a síndica Milene propõe insistentemente a contratação de uma nova equipe de seguranças sob um conchavo com a empresa Elite. Para convencer os moradores, ela mesma arquiteta um roubo de carros dentro do estacionamento do condomínio para reforçar que as câmeras de segurança, assim como os porteiros e guardas atuais, não estão dando conta de promover o bem-estar geral dos condôminos. Essa ameaça direta à segurança do transporte dos residentes se mostra bastante efetiva, pois a locomoção por meio de carros se faz primordial, uma vez que Maldivas está localizado a uma certa distância dos centros urbanos da cidade, assim como os “exúrbios” dos Estados Unidos – subúrbios luxuosos ainda mais externos à urbe. Na série brasileira, o paralelo construído é que o “carrocentrismo” de seus moradores, por estarem situados no bairro da Barra da Tijuca, preconiza a proteção do automóvel, tendo em vista que, para além do bairro em questão ser longe do centro da cidade, a mobilidade urbana dentro do próprio bairro imbrica o uso dese tipo de veículo, por ser um bairro extenso com poucos lugares públicos, em que estabelecimentos, bem como condomínios gradeados, ficam distantes uns dos outros, dificultando o livre trajeto pedestre. Em suma, para não correr o risco de terem seus carros furtados, os habitantes do Maldivas optam pela adoção da nova empresa de segurança, protegendo a propriedade privada e obedecendo ao lema da corporação Elite: “Deixe os problemas para o lado de fora. Coloque a sua vida em primeiro lugar”.
A respeito desse individualismo estimulado pela vontade de segurança das personagens, informações sobre a simbologia do bairro na série se postulam pertinentes. A Barra Da Tijuca é um dos bairros mais recentes da capital carioca. Seu processo de urbanização foi iniciado entre anos 1960 e 1970, sob um projeto piloto de Lucio Costa – arquiteto responsável pelo planejamento da atual capital brasileira Brasília – durante o governo estadual de Francisco Negrão de Lima no Regime Militar. O objetivo inicial da ampliação da cidade era organizar a urbanização inevitável dessa área ainda não explorada pelo ser humano, visto que era relativamente isolada pelo relevo de maciços desde o Período Colonial, quando era apenas um arenoso terreno jesuítico denominado “Fazenda Santa Cruz”. Por conseguinte, o planejamento dessas terras distantes e, portanto, mais suscetíveis à construção de casas e apartamentos maiores, levou à elitização da Barra Da Tijuca. Dessa forma, a Barra foi criada para ser o lar das novas oportunidades, sendo assim, um paraíso imobiliário a fim de representar a ascensão social do carioca, em pleno período do “milagre econômico”, em que os governos militares promoviam um crescimento socioeconômico com obras faraônicas e o aumento do Produto Interno Bruto (PIB), embora a corrupção e a censura informacional continuassem exponentes e acobertadas. Nesse contexto, portanto, o Suburbanismo Gótico se infiltra nas origens desse bairro, em decorrência do encobrimento das falcatruas por via da propaganda de um lugar residencial, profícuo e promissor..
Ao contrário da urbanização de bairros históricos do Rio, que foi promovida por meio da expansão dos trilhos dos trens e bondes, a Barra da Tijuca foi ampliada através das estradas, ou seja, a essência do desenvolvimento da região é o carro, assim como nos subúrbios estadunidenses. Com isso, embora atravessar o bairro incite o uso de automóveis, a ineficácia do planejamento rodoviário gerou uma logística de mobilidade urbana problemática, fazendo com que congestionamentos e acidentes de trânsito participem ativamente do cotidiano das avenidas. Para além dessa contradição, áreas que antes eram de conservação natural, tornaram-se um epicentro de descaso com o tratamento de esgoto e com a poluição das lagoas, além da concentração de centros comerciais, prédios grandiosos e grades suntuosas dos condomínios fechados, que são floreados com poucas áreas verdes – tanto públicas quanto privadas – para vender a imagem de um bairro verde e sustentável em meio à extensa faixa de litoral. Assim, a Barra se consolida um bairro de falsas aparências, em que, por trás da praia paradisíaca, dos domicílios luxuosos e dos carros blindados, é também um lugar de problemas de saneamento básico, engarrafamentos e falta de sociabilidade. Esta última, inclusive, é abastecida pela falta de necessidade de interação entre os moradores, que se privam em suas residências com piscinas, quadras poliesportivas e, em alguns casos, até mercados particulares. Como consequência, a falsidade cresce em detrimento das conexões interpessoais.
Segundo o jornalista historiográfico brasileiro Eduardo Bueno, “A Barra é um retrato absoluto de como o Brasil se desconstrói quando resolve se construir”, relacionando-se, assim, com as tentativas falhas dos Estados Unidos em implementar a cultura da classe média que, para atingir a vida perfeita, precisa se elitizar em conglomerados planejados para se afastar do centro da cidade e de lugares pobres. Assim como a antropóloga estadunidense Rachel Heiman afirma sobre o “American Dream” na tese motivada por sua vivência no subúrbio de luxo Danboro, o “Brazilian Dream” da Barra também não foi apenas amplificado com casas maiores, carros espaçosos e grandes despesas com coisas fúteis, como também foi construído “em uma bolha econômica e em uma fé descontrolada em crenças sobre um variável boom econômico, manipulando, assim, o cidadão médio” (HEIMAN, p. 273). A economia e as políticas culturais do – denominado por Heiman – “individualismo robusto” conduziram os moradores desses ambientes elitistas a se acomodarem em um cotidiano individualista e distante, “posto que, na maioria das vezes, por tornarem-se incapazes de imaginar a possibilidade de criar outro modo de vida, a maioria reprimiu dúvidas inquietantes e se resignou a reabastecer o combustível e seguir a mesma rota preestabelecida e asfaltada” (HEIMAN, p. 21-22), para, mecanicamente e persistentemente, dirigir para casa depois da aula ou do trabalho. “A Barra fica longe da Barra” pois seus moradores se escondem em insufilms nas janelas dos carros blindados e nas cortinas de linho das janelas dos apartamentos duplex, isto é, o barrense desconhece a real face por trás da sua própria vizinhança.
Mediante todas emboscadas, mistérios e depravações morais, a ficção com temáticas tão presentes nos discursos da classe média brasileira se reafirmam no Suburbanismo Gótico, em decorrência dessas noções que corroem as vigas que sustentam os edifícios de mentiras onde as protagonistas se apoiam, enferrujando suas estruturas aparentemente perfeitas. Tais noções são comprovadas quando são analisados os acessórios narrativos que conduzem a história, como a suspeita de que o perigo do condomínio emerge dos próprios vizinhos não confiáveis ou como um ambiente claustrofóbico que, apesar de trazer a comodidade de todos os módulos em um só lugar – spa, piscina, bar, parquinho, quadra, capela, estacionamento, salão de festas, academia, loja de roupa, dentre outros –, apreende os moradores a circularem pelos corredores como boias de flamingo, que passam o dia inteiro se movimentando pelos mesmos metros quadrados da piscina. Maldivas faz clara analogia à realidade dos conglomerados de edifícios da Barra da Tijuca que, com todos esses módulos reunidos em um só lugar, dispensam a necessidade de precisar sair das cercas elétricas para ter acesso a quaisquer tipos de serviço, o que enclausura seus moradores em claustrofobias físicas e sociais. Com isso, o condomínio compreende um lugar que, preso ao passado de suas madames, sufocam-nas em meio a segredos irredutíveis e, assim, “as expressões fictícias de ansiedade e mal-estar crescem por entre as fendas” (MURPHY, 2009, p.9).

Muitas expressões que surgem entre as fendas, certamente, atribuem-se à falta de senso de coletividade dos moradores, visto que gera ansiedades, como a falta de confiança, atos de falsidade e ostracismo social. “Havia uma inegável semelhança entre a fazenda que Liz cresceu e o Condomínio Maldivas. Ambos dispunham de pequenos animais indefesos atrás de cercadinhos, áreas verdes, ar puro, tardes tranquilas e ambos poderiam esconder terríveis predadores à espreita”. Traçando um paralelo com essa frase proferida por Mortícia sobre o primeiro contato da goiana Liz com as áreas de lazer do Maldivas e o conceito de individualismo mascarado de preservação da privacidade, ao mesmo tempo que o subúrbio se vende como um lugar sociável em que os vizinhos vivem em harmonia, “suas reais facetas se concentram em um isolamento atomizado, uma autocontenção e minimalismo moral”, segundo o etnógrafo M.P. Baumgartner. Em outras palavras, ao passo que todos aparentam ser animais dóceis, cada um está à espreita de manter seu estômago cheio. Por exemplo, Liz só passa a fazer parte do grupo das madames após salvar a vida de um dos filhos da corrupta Kátia, como uma recompensa por ter mantido a seguridade da criança, mas, sobretudo, do condomínio. Ou seja, Liz só é aceita como um novo membro a partir do momento em que as madames sentem que a menina salvou suas peles, seus seios familiares e suas casas. Caso contrário, ela continuaria sendo vista como a inquilina à margem da vizinhança.
Ainda sobre Liz, pode-se dizer que ela é o elemento estrangeiro ao condomínio, uma vez que ela se apresenta como a moradora mais recente. Ela é a personagem que vai ganhando seu espaço aos poucos dentro dos limites territoriais do Maldivas. Igualmente às madames do grupo, ela aparenta ser jovem, feliz e bonita, como também afortunada por ter um noivo altivo e um bom capital para comprar um apartamento em um dos bairros mais caros do país. Entretanto, como já dito anteriormente, seus problemas familiares com sua avó Joana e sua mãe ausente Patrícia geraram traumas em Liz que tornaram-na completamente insegura, desconfiada e investigativa. Além disso, em relação ao seu noivado com o filho de um delegado do interior de Goiás, a síndica Milene tenta desconstruir essa visão de um casamento perfeito ao dizer para Liz: “Você acha que está segura com seu caubói macho, mas você não está. Porque ele não ama você. Ele ama a ideia que tem de você. Porque ele não te conhece de verdade. Ninguém te conhece de verdade. Você é uma força da natureza. Nunca deixa ninguém te tirar isso. Senão, um belo dia, você vai acabar presa em uma gaiola, com medo de botar o pé para fora”. Dessa forma, ao desmistificar esse papel de gênero másculo – reforçado por um outro gênero cinematográfico, o Faroeste, através da figura do caubói –, Milene tenta convencer Liz a não se casar tão cedo, assim como ela fez e se deparou com a infidelidade, para não se decepcionar com uma imagem de amor que carece de cumplicidade, respeito e transparência – visto que ambos estão se casando por causa de um acordo econômico entre o pai delegado do noivo e a avó ruralista de Liz. Aqui, o Suburbanismo Gótico se encontra na crítica de um amor idealizado fomentado pelo sonho idílico da casa própria e da estabilidade financeira, junto a uma vida heteronormativa com base nos padrões de gênero, uma vez que Liz acaba desistindo dessa ilusão às últimas instâncias do noivado, quando resolve terminar o relacionamento durante a cerimônia de casamento.

Maldivas, em geral, apresenta-se como um labirinto onde suas personagens encaram suas adversidades nos corredores que, a princípio, significavam conforto, lazer e segurança. A cinematografia do seriado é, por vezes, paradoxalmente claustrofóbica, pois, embora opulentos planos abertos do condomínio sejam bastante recorrentes, não há uma exploração significativa de ambientes externos aos limites do Maldivas e, então, em determinado momento, até o próprio espectador se sente preso às grades e às cancelas. As madames, logo, pouco exploram cenários para além da piscina e de seus apartamentos. Kátia vive dentro de casa para cuidar da casa, seus filhos e de seu marido, que também não pode sair de casa por restrições judiciais; Milene, por ser a síndica, raras vezes abandona a sala da administração, seu closet ou seus stories; Rayssa se dedica à gerência do spa, que também está localizado dentro do condomínio; Mortícia sempre está perambulando pelas áreas comuns despercebida nas sombras; e Liz, além de montar um quarto de investigação na sala de seu novo apartamento, onde despende muitas horas, celebra seu casório na capela oferecida dentro do Maldivas. As poucas vezes que a série busca retratar outras localidades são as cenas em que as mal divas são investigadas na delegacia, ou quando Kátia vai ao banco para sacar todo o dinheiro da conta fantasma no nome da “finada” Patrícia, por exemplo. No episódio final, quando Mortícia é sequestrada pelos funcionários corruptos da Elite – empresa contratada pela síndica Milene que deveria garantir segurança aos moradores –, até o cativeiro da personagem é instalado dentro das demarcações do condomínio. É como se houvesse, de fato, a criação de uma atmosfera gótica dentro desse espaço para que as personagens se sintam enclausuradas, física e emocionalmente, dentro do Maldivas a todo instante.
Em virtude das características discutidas, há claras relações entre a fictícia vida das madames do Maldivas e o Suburbanismo Gótico Estadunidense. Repleto de relacionamentos interpessoais construídos sobre pilares falsos, os vizinhos do Maldivas estabelecem padrões comportamentais de performatividade individualista. Assim, em uma vizinhança com vínculos emocionais tão concretos como uma parede drywall, as madames se destinam à superficialidade de manter as aparências de uma vida nos eixos. Mesmo endividada, Milene continua com seu padrão capitalista de consumo; mesmo com a sexualidade homoafetiva do marido, Rayssa preza pela performance heteronormativa do casal; mesmo insatisfeita, Liz recorre ao padrão de gênero e se casa precocemente; mesmo se importando com os valores morais de sua família, Kátia entra em um esquema de lavagem de dinheiro; mesmo presa a um passado que a impede de superar seus traumas, Patrícia finge a própria morte para não lidar com os desdobramentos. Até que as personagens abandonem seus cercadinhos perfeitos e percebam que os gramados das vizinhas são tão artificialmente verdes quanto os delas, é preciso que as falsidades transbordem como fezes que entopem um vaso sanitário, afinal, como diz Mortícia, “o verdadeiro perigo é feito de pequenas mentiras que pouco a pouco se tornam insustentáveis”. Em Maldivas, não há mal diva que não tenha que desentupir sua própria (vida) privada para poder seguir em frente.
“Seja bem-vindo ao Maldivas! Se você está aqui, Parabéns! Você é uma pessoa diferenciada. Nosso condomínio é um lugar para você desfrutar com sua família em total segurança. Tudo o que você precisa você encontra dentro dos muros do Maldivas. Mas não se esqueça: aqui nosso bem mais precioso é você. Aqui você é mais do que apenas um morador: você é um membro da nossa comunidade. E, aqui, nós respeitamos a diversidade. Em nossa vizinhança, nós valorizamos o respeito ao próximo, mas, acima de tudo, nós valorizamos o respeito às regras. Esperamos que você siga nossas normas de convivência e nos ajude a tornar o Maldivas um lugar cada vez melhor. Estamos sempre de olho! Atenciosamente, seus vizinhos.” (Cartão de boas vindas do condomínio)

Bibliografia:
Livros e obras escritas
BAUMGARTNER, M. P. . The Moral Order of a Suburb. Oxford University Press, USA, 1991.
FRIEDAN, Betty. The Feminine Mystique. Dell Publishing CO., INC. Nova Iorque, EUA, 1979.
HALBERSTAM, David. The Fifties. Villard, Nova Iorque, EUA, 1993.
HEIMAN, Rachel. Driving After Class: Anxious Times in an American Suburb. University of California Press, Califórnia, EUA, 2015.
Maldivas satiriza estereótipos em dramédia com mistérios instigantes. Site Omelete, 20 de junho de 2022. Último acesso em 23 de julho de 2022.
Disponível em: https://www.omelete.com.br/series-tv/criticas/maldivas-critica-netflix
MURPHY, Bernice. The Suburban Gothic in American Popular Culture. PALGRAVE MACMILLAN, Nova Iorque, EUA, 2009.
Outras referências
BUENO, Eduardo. BARRA DA TIJUCA. Canal Buenas Ideias, Youtube, 21 de abril de 2019.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=A1PIWBYL2TA
MALDIVAS. Criação de Natália Klein. Direção: José Alvarenga Júnior. Produção: O2 Filmes. Rio de Janeiro, Brasil: Netflix, 2022. Série exibida pela Netflix. Acesso em julho de 2022.