Arte: Mavi Morais / Foto: Simone Giovine

Você já ouviu falar sobre os coletivos de cinema indígena? Pois é, no Brasil temos vários! Em consonância ao dia dos povos indígenas, vamos te apresentar um desses coletivos: o Coletivo Beture Cineastas Mebêngôkre, dos Kayapó.

Os povos Mebêngôkre-Kayapó vivem em aldeias localizadas, em sua maioria, no sul do Estado do Pará, e foram um dos primeiros povos indígenas brasileiros a se apropriar da câmera devido as diversas experiências que tiveram com antropólogos e cineastas ao longo do século XX. Desde então, vêm produzindo filmes a partir de seus próprios olhares, tanto para guardar memória por meio do vídeo quanto para visibilização de suas lutas. Esses trabalhos resultaram na criação do Coletivo Beture Cineastas Mebêngôkre, que é formado por cineastas de diferentes aldeias.

O grupo nasce do desejo, em 2014, de jovens Kayapó se unirem para se tornarem cineastas. Tudo se concretizou quando o cineasta italiano Simone Giovine veio ao Brasil e conheceu as comunidades. Percebendo o desejo de iniciarem um coletivo, ele decidiu realizar um mapeamento com aqueles que estavam interessados, correu atrás de recursos para compra de equipamentos e realização de formações audiovisuais. Em 2015, surge oficialmente o Coletivo Beture durante uma oficina de cinema ocorrida na aldeia Pykararankre, com o objetivo de fortalecer o movimento como um todo.

O nome “Beture” é referência à uma formiga que tem uma mordida muito forte e possui as cores preto e vermelho, que são as mesmas cores que os Kayapó utilizam em seus corpos quando estão pintados para a guerra: vermelho do urucum e preto do jenipapo. Isso ocorre porque a sociedade Mebêngôkre é marcada pelas características de indígenas guerreiros, o que faz com que visualizem o cinema como uma forma de luta. Em entrevista, o cineasta Bepunu Kayapó conta que “hoje em dia nossa arma pra mostrar as coisas é a máquina de fotografar e filmar”. Desde então, o coletivo vem desempenhando um papel fundamental na busca de reconhecimento cultural e na visibilidade de suas lutas.

Foto: @coletivobeture (instagram)

Com Simone assumindo a coordenação do coletivo, os cineastas passaram a realizar não só suas próprias filmagens, mas diversas formações audiovisuais também para potencializar seus trabalhos. Os resultados são os filmes produzidos que circulam entre as aldeias e fora delas, inclusive a nível internacional, como é o caso do filme Memybijok (2018), de Bepkadjoiti Kayapó, que foi apresentado nos Estados Unidos e na Europa. Essa visibilidade tem possibilitado a participação de jovens lideranças em mobilizações políticas, pois sempre que algo ameaça seus direitos o coletivo se faz presente para a realização dos registros audiovisuais.

Atualmente, o coletivo é composto por cerca de dez pessoas, em sua maioria homens, e uma única mulher. Simone conta que o objetivo é tentar envolver mais mulheres para que seja um grupo mais diversificado. De todo modo, nos últimos anos o coletivo vem ganhando espaço e os integrantes passaram a ser vistos como jovens lideranças na prática audiovisual. Isso acontece porque os cineastas acompanham os caciques na luta e também porque participam de reuniões nas quais podem opinar, ou seja, são lideranças que acompanham o movimento e divulgam as informações de dentro das aldeias para fora e de fora para dentro. Todo esse trabalho possibilitou a existência de um escritório próprio dentro da sede da Associação Floresta Protegida na cidade de Tucumã, no interior do Pará.

Foto: @coletivobeture (instagram)

Por isso, o Coletivo Beture Cineastas Mebêngôkre tornou-se hoje um importante mediador de relações por meio do audiovisual entre os povos Kayapó. Confira abaixo alguns filmes realizados pelo coletivo:

– Menire Djê (2021), de Bepunu Kayapó: https://www.youtube.com/watch?v=HROuFHSePfM

– Memybijok – A Festa dos Homens (2018), de Bepkadjoiti Kayapó: https://www.youtube.com/watch?v=31–_wcRkHM&t=4s

– Meõ nire o kaprãn – A Mulher Tartaruga (2017), de Bepkadja Kayapó: https://www.youtube.com/watch?v=2AHZQUzzrYw

– Kuwyry kango ã me toro – A Festa da Mandioca (2016), de Bepunu Kayapó: https://www.youtube.com/watch?v=SgQzum7MJYQ

– Gwaj ba nhõ pyka – A Nossa Terra (2015), de Simone Giovine e com fotografia de diversos cineastas Kayapó: https://www.youtube.com/watch?v=eW-2e8PNq-U

Siga o Coletivo Beture: https://www.instagram.com/coletivobeture/

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